Valor Econômico
Minas Gerais e Rio Grande do Sul têm a pior
nota na classificação dos Estados a partir de sua capacidade de pagamento feita
pelo Tesouro Nacional
O Tesouro Nacional mantém uma classificação
dos Estados a partir de sua capacidade de pagamento. É parecida com aquela que
as agências internacionais de risco fazem sobre os países para orientar
investidores. Até no uso de letras para classificar se parecem. Apenas dois
Estados, pelo último dado, de novembro de 2022, obtiveram a letra D, mais baixa
das notas: Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Que o rebanho bovino de Minas, pela
importância para a economia e para a culinária nacional, seja deixado em paz
nesta contenda em que o governador do Estado se meteu. O que importa é que Minas
não caminhe para um calote porque quando isso acontece, e não seria a primeira
vez, é o país inteiro que paga.
De acordo com este índice de capacidade de pagamento, o Capag, apenas sete Estados têm a melhor nota, A: quatro estão no Norte e Nordeste (PB, PA, RO e RR), um no Sudeste (ES) e dois no Centro-Oeste (MT e MS). Dos 13 Estados com B, nove estão no Norte/Nordeste (AL, BA, CE, PE, PI, SE, AC, AM e TO), três no Sul e Sudeste (PR, SC e DF). A nota C está restrita a três Estados do Norte e Nordeste (MA, RN, AP) e um do Sudeste (RJ).
Não foi Romeu Zema quem meteu o Estado
neste atoleiro mas ele foi eleito em 2018, porque convenceu o eleitorado de que
conseguiria saneá-lo. De fato, colocou a folha de pagamento em dia e, em grande
parte por isso, foi reeleito em primeiro turno.
Quitou os atrasos do funcionalismo, mas não
resolveu a dívida, hoje estimada em R$ 160 bilhões. No governo Jair Bolsonaro
candidatou o Estado para o Regime de Recuperação Fiscal, programa reservado
para os Estados mais endividados e que mais comprometem a receita com despesas
(MG, RS, RJ e GO).
Só um ano depois, em julho passado,
conseguiu que a Assembleia Legislativa aprovasse o acordo. O atraso submeteu
Minas a uma multa de R$ 16, 4 bilhões. A dúvida que fica agora é como o
governador vai pagar a multa devida sem afetar o principal ativo eleitoral de
sua gestão, que é folha em dia.
Com a confusão que aprontou, terá
dificuldade de arrancar anistia semelhante àquela que a Assembleia Legislativa
do seu Estado aprovou para locadoras de veículos, entre as quais a Localiza,
empresa da qual o conselheiro de seu governo e ex-secretário de desestatização
da gestão Jair Bolsonaro, Salim Mattar, foi fundador.
A trinca de mais próximos conselheiros de
Zema conta ainda com o empresário têxtil e presidente da Fiemg, Flávio Roscoe,
que articulou um manifesto atacando o Judiciário às vésperas daquele 7 de
Setembro golpista de Bolsonaro, além de Marcelo Aro, o secretário da Casa
Civil. Filiado ao PP, Aro foi diretor da CBF e integrou a tropa de choque do
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Se, ao atacar os Estados do Norte e
Nordeste, Zema pretendia aglutinar aqueles do Sul e do Sudeste em torno de sua
liderança para pressionar o Senado na tramitação da reforma tributária, deu
ruim. E não apenas porque prejudica reivindicações - justas - de um conselho
federativo que não reproduza a governança do Confaz, eternamente presidido por
um secretário do Nordeste.
O presidente da Casa, o senador Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), foi o primeiro a repreender Zema. Seu ex-colega de Senado,
hoje ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, também do PSD mineiro,
assinou embaixo. O cerco do PSD mineiro é o que Zema poderia esperar de pior.
Apesar de ter patrocinado a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte
Alexandre Kalil contra a reeleição de Zema, o PSD vinha acalentando a
possibilidade de apoiar sua candidatura à Presidência em 2026.
Seria um apoio casado com uma decisão do
governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pela reeleição, numa chapa em que
o presidente do PSD e secretário de governo de Tarcísio, Gilberto Kassab,
constasse como vice. O arranjo permitiria que, no mais do que distante 2030,
Kassab disputasse o governo paulista no cargo e Tarcísio partisse para a
disputa pelo Planalto.
Sem atos que questionem sua probidade, Zema
estrepou-se na política. Cometeu o mesmo erro de outro neófito, João Doria, de
romper com o presidente da República no primeiro ano de mandato. Por governar o
Estado cantado em verso e prosa como a síntese do Brasil, com um resultado de
segundo turno tão dividido quanto o nacional, Zema poderia ter sido um
pretendente ao Planalto. Agora, se a oposição ler Adélia Prado, a poeta de sua
terra que Zema desconhecia até outro dia, pode constatar que sua gestão, no
limite, servirá para adubo.
Geografia eleitoral
A inteligência do Ministério da Justiça, da
Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal do governo Jair Bolsonaro
deixou para os anais o mapa “nós contra eles” da direita. A fotografia da tela
de computador com os dados de votação de 17 municípios de seis Estados do Norte
e Nordeste em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve mais do que 75% dos
votos foi passada por WhatsApp e recuperada no inquérito que prendeu o
ex-diretor da PRF Silvinei Vasques.
A inteligência dessas instituições deve ter
aprendido geografia eleitoral com Zema. O bloqueio de rodovias poderia ter sido
mais exitoso se tivesse se estendido a Minas. Apenas no Norte do Estado
contam-se 25 municípios em que Lula extrapolou, no segundo turno, a votação que
o bolsonarismo via como proibitiva. Em Cônego Marinho, o presidente chegou a
84,4% dos votos.
2 comentários:
Maria Cristina escreveu::
▪"Não foi Romeu Zema quem meteu o Estado neste atoleiro mas ele foi eleito em 2018, porque convenceu o eleitorado de que conseguiria saneá-lo. De fato, colocou a folha de pagamento em dia e, em grande parte por isso, foi reeleito em primeiro turno.
Quitou os atrasos do funcionalismo, mas não resolveu a dívida, hoje estimada em R$ 160 bilhões. No governo Jair Bolsonaro candidatou o Estado para o Regime de Recuperação Fiscal, programa reservado para os Estados mais endividados e que mais comprometem a receita com despesas (MG, RS, RJ e GO). "
■Não foi pouco o que Romeu Zema fez em quatro anos na gestão do Estado de Minas Gerais não. Fez muito, o Romeu Zema, no sentido de sanear um Estado que teve sua situação financeira muito vulnerada por administrações do PSDB e que por fim, antes do Zema, foi financeiramente quebrado pelo PT, junto com a quase quebra do Brasil.
Zema não colocou só o pagamento dos funcionários em dia não, embora ele ter resolvido em quatro anos o atraso de vários meses na folha de pagamentos já seria muito admirável, porque não era só um ou dois meseszinhos de salários atrasados em uma folha gigante:: Zema saneou mesmo aquela coisa que politicos do PSDB comprometeram e uma gestão do PT enterrou de vez (Minas tinha deixado de ser um Estado e sido transformado em uma... coisa!).
E como governador Zema está há quatro anos sendo vítima de boicote na Assembleia Legislativa por parte dos deputados do PT e seus aliados. Não falo de sofrer oposição normal e dura não, este é o papel da oposição ; falo de b.o.i.c.o.t.e contra Minas Gerais para atingir Zema, que é feito por deputados ligados exatamente à força que QUEBROU Minas Gerais, o PT!
Dito isto em defesa da gestão de Romeu Zema como governador, temos que condenar com força o preconceito que o cidadão Romeu Zema, como pessoa, tem manifestado contra regiões geográficas brasileiras. Muitos podem em sua defesa ficar repetindo que "não foi a intenção de Romeu Zema discriminar regiões pobres", dizer que o que ele quis dizer "não é bem isso que entenderam", mas o fato é que o preconceito está internalizado ali na alma do Romeu Zema de uma forma tão grave que está vazando pela sua boca. Vai fazer um bem muito grande até para ele mesmo como pessoa caso ele se empenhe durante alguns anos em se purgar do veneno do preconceito que o contamina.
▪Eu aconselharia a Romeu Zema, para tratar seu preconceito, ter aulas de cultura.
Zema tem dinheiro suficiente para renunciar ao recebimento de salário de governador, como fez enquanto saneava Minas Gerais ; ele pode pagar por boa tutoria cultural.
Eu o aconselharia contratar um bom filósofo, um bom historiador, um bom geógrafo e um bom antropólogo, todos sem exercitar viés ideológico público, e que se submetesse à tutoria cultural destes profissionais.
Todo preconceito, erro ou equívoco contra politicas ou contra pessoas é um defeito cultural, porque @ human@ e sua natureza são @s mesm@s, e o que muda é a cultura, que se for mal aprendida, mal processada e for erradamente apreendida, principalmente se o erro for provocado pelo defeito do ideologismo, é sempre muito venenosa. Muitas vezes, por ideologismos, estamos expressando absurdos sem ver o tamanho do erro que cometemos e vendo como erros nos outros o que nele não concordarmos, embora o outro esteja se baseando não em opinião, mas em dados e em fatos.
Romeu Zema, este governador maravilhoso que Minas Gerais tem, precisa se tratar, sim, dados os preconceitos que manifesta por ignorância. E o caminho é a cultura, já que em psicanalista eu não acredito porque acho que psicanálise é mais autoajuda, quando não é picaretagem mesmo!
Eu estou lendo e sugiro a todos a leitura do último livro de Natália Pasternak. E a leitura de seus outros dois livros.
Muito bom.
Postar um comentário