O Globo
Dois em cada três americanos acreditam que um
complô matou Kennedy
Às 12h30 do dia de hoje, há 60 anos, uma bala
de fuzil explodiu a cabeça de John Kennedy. Ele tinha 46 anos e era o primeiro
presidente americano nascido no século XX.
Uma pesquisa do Instituto Gallup realizada há
poucos dias informa que 65% dos adultos americanos acreditam que houve algum
tipo de conspiração no atentado. Como um em cada dez americanos duvida que o
astronauta Neil Armstrong tenha pisado na Lua em 1969, deve-se dar atenção ao
vigor das notícias falsas.
Logo depois do assassinato, o presidente Lyndon Johnson constituiu uma comissão presidida pelo chefe da Suprema Corte, Earl Warren. Ela investigou o crime e concluiu que foi tudo coisa do ex-fuzileiro naval Lee Oswald, um sujeito desajustado que havia vivido na União Soviética. Tudo o que ele fez deu errado, menos uma coisa, que lhe deu dois dias de fama em vida, pois foi assassinado no dia 24.
O Relatório Warren em si tem 888 páginas.
Reúne 15 volumes com cerca de 10 mil páginas de documentos. O Federal Bureau of
Investigation (FBI) fez mais de 25 mil entrevistas e produziu 2.300 relatórios.
Nada feito: dois em cada três adultos americanos continuam achando que houve
mais gente envolvida.
A morte de Kennedy, como os discos voadores e
a identidade de Jack, o Estripador, tornou-se campo fértil para transformar
curiosidade em teoria.
Quem quiser entender o vigor da suspeita de
que houve uma conspiração pode ir atrás do livro “Reclaiming History: the
assassination of president John F. Kennedy” (Recuperando a História: o
assassinato do presidente John F. Kennedy), do promotor americano Vincent
Bugliosi (1934-2015). Com mais de mil páginas e 2,5 quilos de peso, ele
esfarelou todas as teorias e concluiu que o Relatório Warren está certo.
Bugliosi atuou nos julgamentos de 21 acusados de homicídio, condenou todos e
mandou oito para o corredor da morte.
No coração de todas as conspirações está a
“bala mágica”. Vinda de cima, acertou Kennedy na nuca. Saindo na altura do nó
da gravata, atravessou o tórax do governador do Texas, atingiu seu braço e caiu
no piso da limusine. Para quem acredita nisso, os tiros que acertaram o
presidente foram dois. Para quem não acredita, há outro atirador. Warren e
Bugliosi sustentam que esse terceiro tiro não aconteceu.
Tudo bem, mas pelo menos duas pessoas não
acreditavam na “bala mágica”. Um era o presidente Lyndon Johnson. O outro, o
poderoso senador Richard Russell, integrante da Comissão Warren.
Em maio de 1964, quatro meses antes da
divulgação do relatório, Russell sabia que a comissão acreditava na trajetória
da “bala mágica” e disse a Johnson:
— Eu não acredito.
— Nem eu — respondeu o presidente.
Johnson assumiu na tarde do dia 22 e morreu
em 1973. Antes, durante e depois do Relatório Warren, ele indicou em pelo menos
oito ocasiões que acreditava na conspiração. Sua teoria era que “Kennedy tentou
pegar Fidel Castro, e ele pegou-o primeiro”.
No dia de hoje, há 60 anos, o chefe das operações especiais da Central Intelligence Agency (CIA) estava reunido com o major do Exército cubano Rolando Cubela num hotel de Paris. Discutiam a eficácia de uma seringa com veneno, disfarçada numa caneta, para matar Fidel. Quando veio a notícia de Dallas, o encontro foi encerrado.
Um comentário:
60tinha.
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