segunda-feira, 17 de março de 2025

Bolsonaro mostra-se útil a Tarcísio - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Prisão desapaixonada do ex-presidente é o melhor cenário para candidatura do governador paulista

Jair Bolsonaro tentou dar uma carteirada mencionando o apoio que teria arrancado do presidente o PSD, Gilberto Kassab, à anistia, mas sabe que o Centrão, se já não pretendia votá-la porque acredita ter um candidato mais competitivo (Tarcísio de Freitas), não deve ser convencido pela manifestação.

Nem a proximidade do dia em que o ex-presidente deverá se tornar réu impediu que se reunisse menos gente do que nas demais mobilizações convocadas pelo bolsonarismo no ano passado. O ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, marcou para o dia 25 a primeira sessão que analisará o acolhimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República.

Vistos do ângulo contrário, porém, os cálculos de público na manifestação da manhã de domingo, menos de 20 mil segundo o Monitor do Debate Político não autorizam a que se diga que Bolsonaro réu será o triunfo da pressão popular. Em São Paulo, uma das cidades em que houve ato pela prisão em dezembro do ano passado, foi possível deixar uma pista livre para o trânsito.

Além do monitor USP-Cebrap, a PM do Rio também apresentou um cálculo de 400 mil. O governador do Estado, Cláudio de Castro, discursou no ato em defesa de Bolsonaro.

Uma prisão desapaixonada de Bolsonaro é uma avenida para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, presente ao ato na companhia de Castro e outros dois governadores, Mauro Mendes (MT) e Jorginho Mello (SC). Dos presidenciáveis de direita, foi a única presença.

Sem mencionar o STF ou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Tarcísio pagou o pedágio de defender a candidatura de Bolsonaro mas tentou levar o jogo pra frente, atacando a carestia e a violência. De azul, enquanto todos estavam de amarelo, foi na linha de que a anistia é necessária para o país virar a página do futuro porque sabe que o padrinho não estará na cédula eleitoral.

Bolsonaro pode estar inelegível, mas mantém um olfato mais apurado do que quaisquer um dos que lá estavam. Começou e terminou com um apelo às mulheres (“qualquer coisa contra uma mulher é uma polêmica enorme no Brasil”). Mencionou as cinco presas por golpismo e concluiu com uma homenagem à viúva de Clériston Pereira da Cunha, também preso no 8/1 e morto em 2024 Papuda, para cativar o eleitorado desencantado com Lula.

Foi o único a citar os eleitores do Nordeste (“região que deveria ser a mais próspera do país”), outro reduto lulista em fogo morto. Foi ovacionado com o grito de guerra “mito” quando pediu passagem para uma pessoa que passava mal na plateia e requisitou um médico.

Mostra-se útil a Tarcísio com o que julga ser um ganha-ganha. Mantém seu eleitorado - restrito, mas intransponível -, mobilizado, e recebe apoio pela anistia. Prefere apoiar seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ausente da manifestação, a avalizar Tarcisio na chapa presidencial, mas o alcance do ato demonstrou que o que lhe resta agora é mobilizar seu eleitorado no tempo que lhe resta e transferi-lo ao nome da direita que chegar ao segundo turno em troca de um indulto - se for preso.

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