Valor Econômico
Prisão desapaixonada do ex-presidente é o
melhor cenário para candidatura do governador paulista
Jair Bolsonaro tentou dar uma
carteirada mencionando o apoio que teria arrancado do presidente o PSD, Gilberto Kassab, à anistia, mas
sabe que o Centrão, se já não pretendia votá-la porque acredita ter um
candidato mais competitivo (Tarcísio
de Freitas), não deve ser convencido pela manifestação.
Nem a proximidade do dia em que o ex-presidente deverá se tornar réu impediu que se reunisse menos gente do que nas demais mobilizações convocadas pelo bolsonarismo no ano passado. O ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, marcou para o dia 25 a primeira sessão que analisará o acolhimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República.
Vistos do ângulo contrário, porém, os
cálculos de público na manifestação da manhã de domingo, menos de 20 mil
segundo o Monitor do Debate Político não autorizam a que se diga que Bolsonaro
réu será o triunfo da pressão popular. Em São Paulo, uma das cidades em que
houve ato pela prisão em dezembro do ano passado, foi possível deixar uma pista
livre para o trânsito.
Além do monitor USP-Cebrap, a PM do Rio
também apresentou um cálculo de 400 mil. O governador do Estado, Cláudio de Castro, discursou no
ato em defesa de Bolsonaro.
Uma prisão desapaixonada de Bolsonaro é uma
avenida para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, presente ao ato na companhia
de Castro e outros dois governadores, Mauro Mendes (MT) e Jorginho Mello (SC). Dos
presidenciáveis de direita, foi a única presença.
Sem mencionar o STF ou o presidente Luiz
Inácio Lula da
Silva, Tarcísio pagou o pedágio de defender a candidatura de Bolsonaro mas
tentou levar o jogo pra frente, atacando a carestia e a violência. De azul,
enquanto todos estavam de amarelo, foi na linha de que a anistia é necessária
para o país virar a página do futuro porque sabe que o padrinho não estará na
cédula eleitoral.
Bolsonaro pode estar inelegível, mas mantém
um olfato mais apurado do que quaisquer um dos que lá estavam. Começou e
terminou com um apelo às mulheres (“qualquer coisa contra uma mulher é uma
polêmica enorme no Brasil”). Mencionou as cinco presas por golpismo e concluiu
com uma homenagem à viúva de Clériston Pereira da Cunha, também preso no 8/1 e
morto em 2024 Papuda, para cativar o eleitorado desencantado com Lula.
Foi o único a citar os eleitores do Nordeste
(“região que deveria ser a mais próspera do país”), outro reduto lulista em
fogo morto. Foi ovacionado com o grito de guerra “mito” quando pediu passagem
para uma pessoa que passava mal na plateia e requisitou um médico.
Mostra-se útil a Tarcísio com o que julga ser um ganha-ganha. Mantém seu eleitorado - restrito, mas intransponível -, mobilizado, e recebe apoio pela anistia. Prefere apoiar seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ausente da manifestação, a avalizar Tarcisio na chapa presidencial, mas o alcance do ato demonstrou que o que lhe resta agora é mobilizar seu eleitorado no tempo que lhe resta e transferi-lo ao nome da direita que chegar ao segundo turno em troca de um indulto - se for preso.
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