Sérgio Roxo e Gabriel Sabóia /O Globo
Petista fez reuniões em série e visitou a
Fazenda para aparar arestas e desfazer rótulo de radical
Descrita por aliados como combativa e
defensora dos interesses da esquerda, a nova ministra de Relações
Institucionais, Gleisi
Hoffmann, usou os seus primeiros dias no cargo para tentar desfazer a
imagem à qual é associada em Brasília. Os gestos da nova chefe da articulação
política buscaram, antes de mais nada, aproximação com o Centrão e alinhamento
com o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad.
Gleisi participou de encontros com a cúpula do Congresso com o objetivo de sinalizar que a sua gestão à frente da pasta pretende ter dias mais calmos do que os do seu antecessor, Alexandre Padilha, que chegou a cortar relações com o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Os movimentos da petista começaram no discurso de posse na segunda-feira e tiveram sequência em uma série de reuniões.
Para um auxiliar do presidente Luiz
Inácio Lula da
Silva, a ministra conseguiu neste primeiro momento atenuar o desgaste na
relação do governo com o Congresso, que havia se acumulado nos dois anos de
Padilha. Um líder de uma sigla de centro diz que a ex-presidente do PT encerrou
a primeira semana como articulada com o placar favorável, mas lembra que a
partida está longe de ser definida.
Ainda segundo o integrante do governo, Gleisi
estabeleceu uma nova dinâmica e obteve nesta largada uma proximidade maior com
o comando do Congresso e os líderes, o que Padilha já não conseguia fazer nos
últimos meses. Um líder do Centrão avalia que ela deu passos para superar as
resistências que enfrenta e criou uma boa expectativa.
Portas abertas
Gleisi primeiro se reuniu com os líderes dos
partidos de esquerda na Câmara em um almoço no Planalto, na terça-feira. No
mesmo dia, abriu as portas de seu apartamento para líderes do Centrão. Ofereceu
bacalhau gratinado, salmão, vinho e uísque para uma conversa informal que se
arrastou até os primeiros minutos da madrugada — um dos presentes definiu a
noite como “agradável”. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),
também compareceu. No dia seguinte com o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União-AP), Gleisi teria reforçado que não pretende se
envolver em outras searas fora da articulação política com o Congresso.
A isenção de Imposto de Renda para quem ganha
até R$ 5 mil foi tema comum das conversas com Motta e Alcolumbre. No jantar de
terça-feira, quando os deputados discutiram como Lula entregará o projeto ao
Congresso, líderes perceberam uma diferença em relação ao antecessor
transferido para a Saúde. Enquanto Padilha, segundo eles, tentava se cacifar
como único canal para chegar a Lula, Gleisi tratou o acesso ao presidente de
uma forma mais natural.
— A ministra Gleisi fez agendas importantes
nesta primeira semana — resumiu o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL),
que participou do jantar no apartamento da nova ministra.
Apesar do bom início, Gleisi ainda não
enfrentou os problemas da insatisfação da base. Os espaços dos partidos no
governo não foram discutidos. A bancada do PSD na Câmara considera que precisa
de um ministério mais robusto do que o da Pesca e almeja comandar o Turismo,
hoje com Celso Sabino, do União Brasil.
A expectativa é que, a partir da semana que
vem, quando o governo precisar de votos para a tramitação do projeto de isenção
do IR, a nova ministra sente para conversar. A proposta é vista com bons olhos
por boa parte dos congressistas, mas uma liderança alerta que “ninguém está
muito animado só com simpatia”.
Gleisi atuou ainda para aparar as arestas que
tinha dentro do governo. Após citar apoio às medidas de Haddad em seu discurso,
foi à Fazenda na quinta-feira e publicou fotos do encontro nas redes. Em uma
sinalização de que as rusgas entre os dois teriam ficado para trás, a ministra
teria dito a Haddad que não se meteria em temas relativos à política econômica
e que sua atuação se restringirá à articulação política.
Em outra decisão que pode faciliar a relação,
nomeou para chefe de gabinete o diplomata Marcelo Costa, ex-assessor especial
na Prefeitura de São Paulo quando o ministro comandava a cidade.
Segundo aliados, a avaliação de Haddad sobre
a conversa é que foi boa e cordial. O tema principal foram as pautas
econômicas. Há disposição de fazer o embate político para mobilizar apoio ao
texto com o discurso da justiça tributária.
— A expectativa é que ela possa fazer uma
grande gestão. Gleisi já entra sem um estigma de desgaste e, sem dúvidas, terá
uma relação melhor com Motta e Alcolumbre — diz o presidente interino do PT,
senador Humberto
Costa (PE)
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