Folha de S. Paulo
Deputado Gustavo Gayer (PL) achou por bem
fazer uso de misoginia incendiária
Gustavo
Gayer (PL), deputado de extrema direita eleito por Goiás, de olho no
crescimento de suas redes sociais, achou por bem fazer uso de misoginia
incendiária. Gayer resolveu comparar Lula a um cafetão e a ministra Gleisi
Hoffmann (PT) a uma garota de programa. Para finalizar, sugeriu que a
ministra, seu namorado e também deputado, Lindbergh
Farias (PT), e Davi Alcolumbre (União), presidente do Senado, poderiam
formar um trisal.
Tudo teve início quando a deputada Gleisi Hoffmann tornou-se recentemente ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Como ocorre com muitas mulheres que chegam aos altos escalões do poder, Gleisi logo teve suas capacidades políticas questionadas. Apesar de ser uma política muito experiente, vários colegas e analistas a julgaram muito "agressiva" para exercer a nova função.
Nada inesperado para um país que ocupa o 133º
lugar no ranking global que mede a proporção de parlamentares mulheres em
exercício em câmaras federais em 180 países. A informação está na terceira
edição do levantamento "Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das
Mulheres no Brasil", divulgado há um ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística). Hoje o Brasil é o pior colocado na América Latina,
com apenas 17% do parlamento ocupado por mulheres. Daí se entende coisas absurdas
como o Senado brasileiro ter inaugurado um banheiro feminino apenas em 2015.
Com o intuito de contornar as críticas feitas
a Gleisi com humor e responder a uma fala recente de Jair Bolsonaro sobre
mulheres petistas serem "feias" e "incomíveis", Lula disse
que havia escolhido uma mulher bonita para o cargo. Foi a brecha que Gustavo
Gayer precisou para promover um circo com declarações que parecem saídas de
fóruns misóginos da deep web. Porém, dessa vez, finalmente, o palhaço deve
sair queimado e com o mandato cassado.
Gayer já acumulava um amplo histórico de fake
news e suspeitas de ter financiado atos de 8 de janeiro com dinheiro público.
Além disso, suas declarações abjetas não são novidade. O deputado já foi alvo
de várias representações na Câmara. Entre as quais um pedido de cassação por
racismo, motivado por uma fala desprezível em um podcast em 2023.
O deputado afirmou então que africanos
possuem QI menor que o de macacos e relacionou a existência de ditaduras em
países da África à falta de "capacidade cognitiva" da população. Em
sua visão, "democracia não prospera na África. Por quê? Para você ter uma
democracia, você tem que ter o mínimo de capacidade cognitiva de entender o bom
e o ruim, o certo e o errado".
Agora, enquanto Gustavo Gayer lida com as
consequências de sua falta de "capacidade cognitiva" para o exercício
da democracia, Gleisi Hoffmann sai por cima da barafunda machista.
Além de ter motivado as falas que devem levar
à cassação de Gayer, a nova ministra já vem sendo vista como uma articuladora
pragmática pelos parlamentares do Centrão. Segundo apurou a jornalista Thais
Bilenky, até Arthur Lira (Progressistas), que tinha um problema sério com
Alexandre Padilha, antecessor de Gleisi no cargo, já começou a elogiá-la nos
corredores da Casa. Ao que tudo indica, a petista pode dar passos bem maiores
no futuro.
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