Para segurar a inflação, o governo decidiu usar a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, para forçar a queda dos preços dos combustíveis aos consumidores. O ministro Edison Lobão disse que a pressão sobre a BR, que tem 7 mil postos no Brasil (18% do total) e controla 47,8% do volume de combustíveis vendidos, tem como objetivo acirrar a competição, em um setor que, para ele, vive um processo de cartelização. "O governo vai pressionar a BR para baixar o custo. Se os outros (revendedores) não seguirem a queda, a BR vai vender mais", disse Lobão. Entre janeiro e abril, o álcool subiu 31 % e a gasolina, 9,58%. A federação que representa os donos de postos classificou as declarações de Lobão de "irresponsáveis e infundadas". Nas usinas, os preços de álcool hidratado e anidro (misturado à gasolina) caíram na semana passada, pela segunda vez consecutiva, mas a queda ainda não chegou ao consumidor.
Posto de chapa branca
SOB PRESSÃO
Ministro diz que governo vai usar a BR para forçar queda nos preços dos combustíveis e deter inflação
Mônica Tavares e Ramona Ordoñez
Ogoverno decidiu utilizar a BR Distribuidora - subsidiária da Petrobras que tem cerca de 7 mil postos no Brasil (18% do total de revendedores) e 47,8% do volume de combustíveis vendido - para forçar a queda dos preços dos combustíveis aos consumidores finais. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou ontem ao GLOBO que o objetivo será acirrar a competição, em um ambiente que, para ele, está passando por um processo de cartelização. Ainda assim, o ministro garantiu que preços do etanol começaram a cair ontem, refletindo o fim da entressafra da cana-de-açúcar. O etanol é o principal foco de pressão individual sobre a inflação nos últimos meses. Tem reflexo ainda no preço da gasolina, que, no Brasil, é comercializada com 25% de álcool combustível.
- O governo vai pressionar a BR Distribuidora, da Petrobras, para baixar o custo, ela tem uma cadeia de postos. Se os outros (revendedores) não seguirem a queda, a BR vai vender mais combustível - afirmou o ministro, sem adiantar em que fase estão as conversas com a Petrobras.
Não será a primeira vez que a estatal será usada, este ano, como instrumento para evitar a alta dos combustíveis. Na visão da empresa, a escalada acentuada da cotação do barril do petróleo no mercado internacional desde janeiro, há mais de um mês justificaria um reajuste da gasolina nas refinarias. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, fez esta ponderação mais de uma vez em público, e sofreu ataque incisivo tanto de Lobão quanto do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Prevaleceu a decisão da presidente Dilma Rousseff de segurar ao máximo o repasse. A preocupação é com a inflação. Entre janeiro e abril, o álcool subiu 31,09%, mais de nove vezes e meia a inflação acumulada no período pelo IPCA, que ficou em 3,24%. A gasolina aumentou três vezes a variação média dos preços da economia, 9,58%.
Preço nas usinas cai; nos postos, não
Lobão credita parte da alta duradoura dos preços dos combustíveis nas bombas a uma suposta formação de cartel no setor. Lembrou que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) - que agora fiscaliza não só a gasolina mas também o etanol - foi chamada a participar do combate às práticas anticompetitivas e fazer as denúncias ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O ministro garantiu que, caso sejam constatadas infrações, os postos serão multados e até fechados. Para ele, haverá redução dos preços em consequência da ação.
- Estava havendo em Brasília e na minha terra, São Luís, um cartel e eu assumi a responsabilidade de pedir à ANP que se dirigisse ao Cade para que oficialmente o governo interviesse para que este descalabro fosse resolvido.
A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis (Fecombustíveis) rebateu as críticas e classificou as declarações de "irresponsáveis e infundadas". Em nota, a entidade afirma que, se há casos comprovados de formação de cartel, "é dever do governo agir e aplicar as sanções cabíveis para todos aqueles que infringem a lei e prejudicam o mercado".
Esta semana, segundo Lobão, a sociedade já começará a verificar queda nos preços dos combustíveis.
- A partir de hoje (ontem), nós poderemos perceber nitidamente a redução dos preços do etanol na bomba.
Nas usinas, os preços do álcool hidratado e anidro (misturado à gasolina) caíram na semana passada, pela segunda semana consecutiva. O anidro foi vendido a R$1,8817 o litro, sem impostos, 20,98% menos que o valor de R$2,3815 da semana anterior. Já o hidratado ficou 20,35% mais barato: o preço foi de R$1,3374 na semana anterior para R$1,0652.
O presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda, também prevê que a redução chegue aos postos esta semana. Ele diz que o recuo nos preços das usinas leva em torno de três semanas para chegar às bombas, por causa da logística e dos estoques em poder das distribuidoras e dos postos revendedores.
- Muitos postos começaram hoje (ontem) a receber álcool com alguma redução de preços. Então, só a partir desta semana é que podem começar a cair nas bombas - disse Miranda.
No Rio, no posto Jurema (bandeira BR), na Tijuca, o gerente Flavio Calafara disse que recebeu ontem gasolina com o preço normal. Ele acredita que amanhã ou quinta-feira receberá o combustível com preços menores. Com os altos preços, seu movimento caiu cerca de 15%. Já no posto Modelo (Shell), em Botafogo, a gasolina deverá ficar mais em conta a partir de amanhã, quando haverá entrega de combustível. Ontem, o litro da gasolina custava R$3,099, e do etanol, R$2,499.
FONTE: O GLOBO
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