As decisões de Dilma Rousseff levam duas marcas: ampliam o já fabuloso poder da Presidência e ignoram, quando não afrontam, convenções da política.
Sozinha, ou ladeada de poucos assessores de confiança -que, entre o entusiasmo e a resignação, batem continência-, a presidente faz só o que quer e do jeito que quer.
Montou uma equipe sem luz própria. Confiou o BC a funcionários de carreira sem "projeção no mercado". Na Casa Civil, trocou um veterano da política por alguém "que nem sequer conhece Brasília".
O desenho é propício para que Dilma defina pessoalmente diretrizes e até detalhes dos programas de governo, como ficou claro na atabalhoada montagem do pacote de estímulo à indústria nacional.
Derrubados Antonio Palocci e Nelson Jobim, não há, no primeiro escalão, ninguém com trânsito nos outros poderes nem currículo para fazer contraponto à presidente.
O vice Michel Temer, craque em acordos e potencial foco paralelo de comando, foi escanteado de todas as principais decisões.
Nesse sentido, a articulação política, tão cara a Lula e a FHC, deixou de ser prioridade. Virou incômodo.
Dilma atropelou os protocolos quando bloqueou emendas parlamentares, demitiu suspeitos de corrupção nos Transportes e nomeou um diplomata de esquerda para a chefia das Forças Armadas. Não teve receio de alienar congressistas, políticos em geral e militares.
Uns admiram o empenho dela em fazer diferente. Outros questionam a obsessão pela microgerência e o alheamento à realidade extragabinete. Aqui e ali, começam a surgir as comparações com Collor.
O presidente corrido do cargo, porém, sucumbiu a uma outra Brasília. Há 20 anos, o Legislativo era símbolo da democracia recém-conquistada e contava com forças engajadas em melhorar a política.
O trunfo de Dilma é a ruína moral do Congresso, dos políticos em geral e, inclusive, de seu partido.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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