O ministro Wagner Rossi (Agricultura), que neste final de semana perdeu seu número dois após acusações de lobby, tem usado em seu gabinete funcionários não concursados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
A manobra desfalcou setores da principal estatal do setor agrícola. Rossi diz que levou os funcionários para "auxiliá-lo"
Ministro da Agricultura usa funcionários de estatal
Afilhados do PMDB contratados pela Conab trabalham para Wagner Rossi
Transferência deixa acéfalos postos de chefia de empresa que organiza o mercado de produtos agrícolas
José Ernesto Credendio, Andreza Matais e Natuza Nery
BRASÍLIA - Depois de inchar a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, transferiu para seu gabinete funcionários contratados sem concurso e até hoje remunerados pela principal estatal do setor agrícola.
Antes de assumir a pasta, Rossi dirigiu a companhia de junho de 2007 a março de 2010. Em sua gestão, ele mais do que quadruplicou o número de cargos de confiança na empresa. Ao sair de lá, levou pelo menos sete funcionários para seu gabinete.
Esses servidores continuam recebendo salários da Conab e deixaram acéfalos seus postos na empresa. Entre eles há funcionários que ocupavam cargos de chefia na Conab, como as gerentes de eventos e de acompanhamento de programas.
A assessoria de Rossi justificou os empréstimos dizendo que o ministro "trouxe profissionais graduados que trabalharam com ele na Conab para auxiliá-lo", mas não fez comentários sobre o impacto que a transferência teve na atuação da Conab.
Responsável pela organização do mercado agrícola e do abastecimento de comida no país, a Conab virou nos últimos anos um cabide de emprego para afilhados políticos e parentes de caciques do PMDB, o partido de Rossi.
Como a Folha mostrou ontem, ganharam cargos um filho do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL); a ex-mulher do líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN); um neto do deputado Mauro Benevides (CE); e um sobrinho do ex-governador Orestes Quércia, peemedebista histórico que morreu no ano passado.
Levantamento feito pela Folha mostra que o apetite político por cargos na máquina do ministério foi muito além de postos estratégicos, como diretorias e superintendências. Até mesmo funções do segundo escalão são usadas para abrigar aliados.
Servidores de carreira da Conab dizem que nunca viram alguns dos funcionários apontados pela Folha. O fato de muitos estarem a serviço do ministro da Agricultura é um dos motivos. Além disso, alguns apadrinhados atuam fora de Brasília, embora estejam lotados na capital.
Um desses casos é o de Adriano Quércia, o sobrinho do ex-governador, que vive em São Paulo. Ele trabalhou com o filho do ministro, o deputado estadual Baleia Rossi, em campanhas eleitorais no passado. Baleia é presidente do PMDB paulista.
PMDB e PTB se revezam no controle da Conab desde o governo Lula. O atual presidente é da cota petebista, assim como o procurador-geral da empresa. O PMDB possui três diretorias e o PT, uma.
Um desses apadrinhados abriu uma crise política na Conab há duas semanas. Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), deixou a diretoria financeira do órgão dizendo que na estatal "só tem bandido".
A crise já derrubou o braço direito de Wagner Rossi, Milton Ortolan. Ele deixou a secretaria-executiva do ministério no fim de semana após reportagem da revista "Veja" afirmar que um lobista despachava no ministério e distribuía propinas com o conhecimento de Ortolan.
FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário