segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Inquietações intercontinentais :: Paulo Brossard


Embora haja fatos relevantes no nosso quintal, tão maiúsculos são os problemas externos, que não tenho a pretensão de dizer novidade. Sinto tão só o desejo de transmitir alguns comentários acerca de seus efeitos, visíveis e além-fronteiras.

A questão é que os problemas internos e pessoais de repente tornam-se associados a problemas externos, que também confundidos com outros de caráter público.

É notório que o presidente dos Estados Unidos se fez presidente e que o Congresso lhe dava sustentação. Ocorre, porém, que, realizadas as eleições parlamentares, continuou a contar com a maioria do Senado, mas deixou de ter o apoio da Câmara dos Representantes, cuja maioria passou a pertencer ao Partido Republicano. Assim sendo, como também é notório, o presidente Obama pretendeu tomar uma série de providências, inclusive com relação à capacidade de endividamento da União, tendo em vista que a dívida norte-americana é superior à casa dos US$ 14 trilhões; a maioria conservadora na Câmara se opõe a esta providência desejada pelo presidente Obama, que considera fundamental sua redução em US$ 3,7 trilhões.

Para aderir a essa decisão, o Partido Republicano teria um prazo visivelmente breve; terminava em 2 de agosto, o que importa dizer que o prazo útil de semanal passava a ser de dias e caminhava para vir a ser de horas. Esta situação transformava o problema em uma questão quase fatídica e, por isto, enquanto muitos pensavam que não haveria tempo para a composição imprescindível, eu, no entanto, sempre acreditei que o entendimento seria possível, tendo em consideração o caráter anglo-saxão das partes, propenso às composições recíprocas. Interesses aparentemente antagônicos poderiam ter razões a permitir a composição aparentemente insolúvel.

O leitor está a entender que esteja a pensar na sucessão presidencial dos Estados Unidos; o insucesso da solução pleiteada pelo presidente Obama prejudicaria sua suposta reeleição, porque levaria a União americana ao calote, com seus efeitos inerentes; mas não deixaria imune o Partido Republicano da responsabilidade de ter sido causa eficiente do colapso norte-americano e das suas consequências até então inimagináveis, em termos nacionais e internacionais.

Voltando ao Brasil e a seus interesses, poderia dizer-lhe, como aos demais países, que não estariam ilesos de pesados e duradouros efeitos, nem por quanto tempo poderiam perdurar, e em que medida. É preciso não esquecer que as consequências da crise de 2008 ainda não se apagaram e foram muito além do ano em que se tornou conhecida. Em outras palavras, aquela crise ainda não terminou; quando terminaria a de 2011, a ela relacionada e apenas se iniciando?

CDATA[Repito, a título de pura informação, o que leio na primeira página de um dos grandes jornais do Brasil. "Os mercados internacionais viveram ontem seu dia mais nervoso desde a crise financeira que travou a economia mundial, em 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers." Concluo com as palavras da mesma folha: "O medo da recessão mundial cresce".

Dir-se-á que o acordo republicano e democrata não resolveu o problema, que continua pendente; é claro que não resolveu; e não havia tempo para fazê-lo, o que não quer dizer que seus resultados imediatos não fossem cruéis para a América e a Europa. Quais seriam esses efeitos se o calote tivesse sido consumado?

Note-se, de resto, que nenhuma das duas partes festejou o acordo, embora o presidente Obama declarasse que o primeiro passo fora dado. Esse o fato, abreviado ao máximo, que mostra de maneira iniludível a gravidade e a dimensão dos problemas vividos pelos grandes Estados no dia de hoje; e não seria necessário dizer que, infelizmente, não são os únicos.

E, para não alongar-me, não disse nenhuma palavra sobre as guerras em que os Estados Unidos estão empenhados, longe do seu território, e que o atual presidente herdou de seu antecessor.

*Jurista, ministro aposentado do STF

FONTE: ZERO HORA (RS)

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