Réus usam a tática de empurrar a responsabilidade uns para os outros
Dirceu alega que não mandava no PT; Genoino, que não cuidava do dinheiro do partido; Delúbio, que administrava as finanças, mas não negociava apoio parlamentar; Valério, que fez empréstimos legais. No fim, só admitem caixa 2
Os advogados de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil; José Genoino, ex-presidente do PT; Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT; e Marcos Valério, lobista que operou o mensalão, lançaram mão de estratégias parecidas: todos alegaram que não há provas nos autos do que o Ministério Público Federal sustenta ter sido uma organização criminosa, todos negam ter havido compra de votos de deputados e todos empurram as responsabilidades uns para os outros, de forma que possam se eximir de culpa. O advogado de Dirceu rebateu as acusações: "Meu cliente não é quadrilheiro." O de Delúbio admite que ele fez caixa dois na campanha do PT, crime já prescrito que não pode levar ninguém à condenação. O de Valério só reconhece que havia caixa dois.
Jogo de empurra no STF
Defesa diz que Dirceu e Genoino não cuidavam de dinheiro do PT e que houve só caixa 2
Carolina Brígido, André de Souza
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
BRASÍLIA Integrantes do chamado núcleo político no processo do mensalão, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares unificaram as defesas para alegar que não há provas nos autos sobre o que o Ministério Público sustenta ter sido uma organização criminosa. Também juntos, negaram ter havido compra de votos de deputados - mas usaram espécie de jogo de empurra para se eximir de responsabilidade.
O advogado de Dirceu disse que o cliente não cuidava de temas do PT. O de Genoino, que ele só tratava de aspectos políticos - e que o homem do dinheiro era Delúbio. A defesa do tesoureiro assumiu caixa dois, não ligado ao processo, já prescrito e, por isso, não passível de condenação. Os três são acusados de corrupção ativa e formação de quadrilha.
A defesa de Marcos Valério, apontado como operador do mensalão e integrante do chamado núcleo publicitário, também lançou mão do caixa dois, supostamente cometido por Delúbio, para tentar se livrar dos cinco crimes aos quais responde: corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas. Sócio de Valério em empresas de publicidade, Ramon Hollerbach também teve a defesa apresentada em plenário.
Gráficos distribuídos aos ministros
A tese de que não há provas suficientes para condenação foi recorrente.
- Ninguém dá notícia de compra ou pedido de compra de voto de deputado, apesar das 300 testemunhas ouvidas na instrução criminal - disse Marcelo Leonardo, advogado de Valério.
- Eu sei que não se pode exigir escritura ou confissão, mas a gente tem que trabalhar com um mínimo de realidade. E a realidade é essa, não dá para condenar - afirmou Arnaldo Malheiros, defensor de Delúbio.
- O mensalão nunca existiu. Falava (Roberto) Jefferson inicialmente de pagamentos periódicos, regulares, de R$ 30 mil a deputados. Há nos autos alguma prova disso? Não há nenhuma, nada, absolutamente nada - disse Luiz Fernando Pacheco, em nome de Genoino.
Para sustentar melhor a tese, Malheiros preparou gráficos e distribuiu aos ministros. Disse que, dos 394 depoi mentos analisados, 337 não mencionaram seu cliente. Só 39 alegaram que conheciam Delúbio da vida profissional ou partidária. Outras 14 disseram que conheciam o ex-tesoureiro de vista, ou da mídia. Malheiros disse que nenhuma testemunha conversara com o réu sobre compra de votos ou ouviu falar na possibilidade. Para a conta fechar, ficaram faltando quatro testemunhas.
Os advogados mostraram preocupação com a opinião pública. José Luís de Oliveira Lima, defensor de Dirceu, citou artigo de Malheiros que diz que o ministro Celso de Mello "nunca se deixou pressionar por forças políticas, pela imprensa ou pela opinião pública":
- Tenho certeza de que essas virtudes refletem as virtudes de todos os integrantes desta Corte.
Malheiros citou passagem bíblica em que o governador romano Pôncio Pilatos pede ao povo para escolher entre a condenação de Jesus e Barrabás, um ladrão:
- Como é nocivo o juiz que vai até a sacada perguntar ao povo o que ele quer. Solta Barrabás, condena Jesus e depois lava as mãos, mas a consciência o persegue. Isso não pode ser feito. O julgamento tem de ser como essa Casa vai fazer, tecnicamente, à luz das provas, da lei. Porque ainda há a Justiça brasileira.
Marcelo Leonardo reclamou do tratamento dado a Valério pela mídia:
- (Valério) Não é troféu ou personagem a ser sacrificado em altar midiático. Foi vítima de implacável e insidiosa campanha de publicidade opressiva.
Pacheco argumentou que o PT já foi absolvido pela opinião pública:
- Tanto que o presidente Lula reelegeu-se de forma acachapante.
FONTE: O GLOBO
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