Um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros dá o sinal de que será um ciclo um pouco mais longo. Melhor que fosse mais forte e curto para evitar o excesso de tensão pré-copom que houve desta vez. A boa notícia é que a inflação vai desacelerar ao longo do ano, após o pico em junho, mas ainda ficará perto do teto. Pior que a alta dos juros é o efeito da inflação sobre os endividados.
A desaceleração da inflação não será forte. Na expressão do economista Luiz Roberto Cunha, será "lenta e gradual", o que significa que os preços permanecerão altos, mas instalados num ponto mais confortável da faixa de flutuação permitida pelo sistema de metas.
- O tomate já está desabando, a carne está caindo, outros hortifruti vão reduzir o preço com a chegada das temperaturas mais amenas que são mais favoráveis à produção - afirmou o economista.
Alguns produtos continuarão com problemas, como o leite, por exemplo, que enfrenta o efeito combinado de uma seca forte na Nova Zelândia e uma explosão nas importações de leite em pó pela China.
Houve o adiamento do reajuste dos ônibus que têm um peso forte de 2,67 pontos no índice de inflação. As tarifas serão elevadas em junho. Mas o governo prepara para o dia primeiro de maio uma série de anúncios, um deles, a retirada de PIS/Cofins sobre diesel e pneus, para atenuar a alta do ônibus. Mesmo assim, o índice de junho pode provocar, de novo, o estouro do teto da meta porque no ano passado a inflação de junho foi de 0,08%.
- Mas, no segundo semestre do ano passado, a inflação foi alta quase todos os meses - agosto, 0,37%; setembro, 0,53%; outubro, 0,43%; novembro, 0,52%; e dezembro, 0,50% - e isso por causa da seca nos Estados Unidos, que não vai se repetir na mesma intensidade e que afetou os preços de várias commodities agrícolas - diz Luiz Roberto.
Este ano haverá uma pressão menor do câmbio. Ele tem subido nos últimos dias, mas no ano passado saiu de R$ 1,70 para mais de R$ 2,00, e isso teve um grande impacto nos preços.
O sócio-presidente da GoOn consultoria, Fernando Manfio, especializada em gestão de risco de crédito, acha que um aumento pequeno dos juros não terá muito efeito sobre a inadimplência porque o custo do dinheiro no Brasil continua muito alto, mesmo com a redução recente da Selic. Os juros oficiais tinham caído, mas as taxas cobradas pelos bancos subiram.
Por outro lado, ele explica que o aumento da inflação não estava no radar durante o ciclo de forte concessão de crédito e isso está tirando renda dos endividados e contribuindo para os atrasos no pagamento de dívidas.
- Se a gente olhar para o início do ciclo de forte expansão do crédito, ainda no governo Lula, a inflação alta não estava no radar de ninguém. Ela é um fator novo, que tem contribuído para a inadimplência, principalmente das classes de menor renda. Muita gente fez dívida pela primeira vez, com prazos longos de pagamento, como no caso dos veículos, e agora está tendo um gasto elevado com alimentação, e ao mesmo tempo continua tendo as parcelas para pagar - explicou.
A elevação das taxas poderia ajudar a afastar as dúvidas sobre o Banco Central, o que afetará positivamente as expectativas. Mas foi tão pequena que talvez não faça o efeito esperado. O Banco Central está de olho também na área externa, que, nos últimos dias, teve grande deterioração.
A decisão de ontem do Banco Central não resolve o problema da inflação, a desaceleração já prevista ajudará a reduzir a tensão em relação ao problema durante o ano. Mas as taxas de inflação continuam muito altas no Brasil e outros fatores atuam para que ela permaneça muito perto do teto da meta.
Fonte: O Globo
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