sábado, 14 de dezembro de 2013

Caindo pelas tabelas - Merval Pereira

O Brasil também não tem tido boas notícias com relação às suas universidades. Recentemente, deixou de ter representante entre as 200 melhores no Ranking Mundial de Universidades 2013-2014, divulgado pela consultoria britânica Times Higher Education (THE). Em 2012, a USP figurava como a única brasileira, na 1583 posição, mas este ano caiu para a 226ª colocação.

Além disso, há apenas quatro universidades brasileiras entre as cem melhores dos principais países emergentes, classificação feita pela primeira vez pela mesma THE. As quatro brasüeiras citadas são a USP, que ficou em 11º lugar; Unicamp, em 24° lugar; UFRJ, em 60º; e Unesp, em 87º. A China lidera a classificação com 23 universidades na lista — quatro delas entre as dez melhores.

Para o sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), a política de ensino superior do govemo federal tem se concentrado no acesso, sem se preocupar com a qualidade e sem admitir que diferentes instituições podem ter papéis distintos — umas dando cursos de qualidade adequada para grandes números, outras trabalhando na ponta da excelência. Segundo ele, a China, como também a índia e a Coreia, da mesma maneira que a Alemanha e outros países europeus, decidiu identificar suas melhores instituições e investir nelas para as transformar em instituições de padrão internacional "Isso é feito não somente colocando mais recursos, mas exigindo que elas mostrem padrões elevados de desempenho em ensino e pesquisa

Para tal, precisam ter autonomia e flexibilidade para administrar recursos e, sobretudo, para ter políticas de gestão de talento, o que significa buscar ativamente, em todo o mundo, pessoas de alta competência e pagar o que se paga a essas pessoas no mercado internacional, ou pelo menos acima do que pagaria o mercado privado em seu país.

Schwartzman lembra que, np Brasil, essa flexibilidade tem sido impossível, "porque nossas universidades são repartições públicas geridas burocraticamente e submetidas a políticas de salários isonômicos" Além disso, as universidades "estão submetidas a pressões populistas como as de eleições diretas etc., que são incompatíveis como uma gestão mais forte e voltada para o desempenho e a excelência" ressalva. Como o setor público não conseguiu crescer nesse modelo, o privado ocupou o espaço e hoje atende a mais de 70% das matrículas, "dando uma educação de qualidade precária" la. menta Schwartzman.

Para Arnaldo Niskier, ex-secretário de Educação no Rio, não há muito o que comemorar no ensino superior: "Já deveríamos estar com dez milhões de alunos, mas não chegamos ainda a sete, mesmo contando com um milhão de inscritos na promissora educação à distância".

Para ele, "é mais que evidente o envelhecimento do nosso modelo educa; cional Currículos ultra; passados, professores i despreparados, recursos insuficientes, falta de vontade política nesse setor estrategicamente fundamental para o crescimento do país".

Mozart de Araújo, do Instituto Ayrton Senna, acha que uma das razões da queda de nossas universidades é "o baixo nível de internacionalização" que teria de ser ampliada aumentando a dupla titulação no seu cotidiano e a mobilidade acadêmica de professores e alunos. "Nossos currículos são muito verticalizados e burocratizados, o que impede muitas vezes a dupla titulação e o reconhecimento de estudos fora do país. Nossos alunos e professores têm baixa capacidade para se comunicarem em inglês, seria necessário oferecer disciplinas bilíngues"

Ele acha que o programa Ciência sem Fronteiras é importante iniciativa no campo da internacionalização, "mas é preciso ter um planejamento na volta de nossos alunos, ou seja, de como vamos aproveita-los estratégicamente para o desenvolvimento do país" Araújo lembra que atualmente, nos Estados Unidos, há cem mil chineses estudando nas melhores universidades e já sabem o que yão fazer no retomo ao país. Nós temos apenas nove mil brasileiros. "Seria estratégico para nossas universidades abrir escritórios em locais de desenvolvimento em C&T e Inovação, como nas regiões de Harvard e Stanford" o que ele chama de "ter antenas para o futuro" As universidades precisariam também se submeter às avaliações internacionais.

Ele lembra que a Universidade Federal de Pernambuco fez isso há 15 anos, ao ser avaliada pela Associação de Reitores da Europa e pela Middle States Association — USA, e assim conseguiu chegar entre as dez melhores universidades do Brasil - a única do Norte/Nordeste. (Amanhã, mais sugestões)

Fonte: O Globo

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