• Interlocutores de ex-senadora dizem que posição de Aécio sobre maioridade penal não impediria apoio a tucano
Sérgio Roxo e Silvia Amorim – O Globo
SÃO PAULO — Depois de ter provocado incertezas quanto à concretização da aliança para o segundo turno da disputa presidencial, a proposta de Aécio Neves de redução da maioridade penal em casos de crimes hediondos deixou de ser vista, nesta sexta-feira, como um empecilho para que Marina Silva (PSB) declare apoio ao tucano. Os interlocutores da candidata derrotada, que vinham colocando como ponto fundamental para o acordo um recuo de Aécio nesta questão, passaram a afirmar, nas últimas horas, que o importante é o conjunto das propostas para a área social, como a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas e o compromisso em não aletrar as leis trabalhistas para o setor agrícola.
Entre os “marineiros”, já há quem diga que a redução da maioridade penal é um assunto que será tratado pelo Congresso e não pelo presidente da República. A retirada da proposta faz parte da lista de 20 compromissos defendidos pela Rede Sustentabilidade, o partido que Marina tentou criar no passado e foi rejeitado pela Justiça Eleitoral, defendidas para o segundo turno. Nesta sexta-feira, a legenda divulgou uma nota minimizando a importância dos compromissos em que afirma que adesão à candidatura de Aécio não está em questão e que apresentou as propostas para contribuir para “um pleito mais qualificado”. Por fim, o partido diz reconhecer a legitimidade de “Marina Silva, como nossa ex-candidata, de se posicionar conforme sua consciência”.
Porta-voz da Rede, Walter Felman também não acredita que a questão da redução da maioridade penal seja fundamental para a aliança de Marina com o tucano no segundo turno.
— Na verdade, é o conjunto (das propostas). Não tem nenhum sentido acreditar que qualquer candidatura que não tenha ido ao segundo turno tenha autoridade para fazer o seu programa valer. É apenas uma ideia de debate e programa para o segundo turno.
Integrantes da campanha tucana disseram hoje que o clima para um entendimento voltou a melhorar, e a esperança é grande em um acordo com Marina e a Rede.
— Há uma clareza de que não será atendida 100% da pauta definida por eles e isso já é um avanço — disse um dos estrategistas de Aécio.
As negociações estão se dando entre um grupo muito restrito e formado por pessoas muito próximas dos candidatos. Do lado de Aécio, uma dessas pessoas é o candidato a vice, Aloysio Nunes Ferreira, que tem conversado com o ex-tucano Feldman, que nega, porém, as negociações.
Nem mesmo os elaboradores do programa de governo estão participando das tratativas. Até agora, Aécio e Marina não conversaram sobre a pauta de reivindicações programáticas.
O candidato tucano deverá fazer, em seus próximos pronunciamentos, sinalizações sobre pontos que considera de possível entendimento entre ele e Marina, como a reforma política, a questão da demarcação de terra indígenas e sustentabilidade. O encontro do candidato com a viúva de Eduardo Campos, neste sábado, em Pernambuco é, na visão da equipes de Aécio e de Marina, um gesto que ajudará a aproximar a ex-senadora de um anúncio em favor do tucano.
O tucano ainda vai visitar a cidade de Sirinhaém, na Zona da Mata, berço de lutas sociais nos tempos de Miguel Arraes e cidade em que Marina teve o seu maior percentual de votação em todo o país: 74,19%.
A notícia de que aliados de Marina exigiriam um recuo de Aécio sobre a proposta de redução da maioridade penal para crimes hediondos exaltou os ânimos nesta sexta-feira entre lideranças paulistas do PSDB. Aloysio Nunes é o autor da proposta no Congresso. Alguns tucanos interpretaram a inclusão desse ponto na pauta de reivindicações dos aliados da Marina como uma desculpa para a ex-senadora não apoiar Aécio.
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