• Demissões devem ocorrer até o fim do mês, após anúncio de perdas com desvios
• Murilo Ferreira, da Vale, está entre os cotados; Lula vai defender o nome de Henrique Meirelles
Natuza Nery, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Após meses de resistência, a presidente Dilma Rousseff decidiu trocar o comando da Petrobras e acertou com a chefe da estatal, Graça Foster, a demissão de toda a diretoria da empresa.
A substituição só não ocorreu ainda por falta de um sucessor imediato para a presidência da petroleira. Alguns dos cotados mostraram resistência em assumir o cargo antes da atual diretoria resolver os problemas do balanço financeiro da empresa.
Dilma e Graça se reuniram nesta terça-feira (3) em Brasília, após a Folharevelar a decisão presidencial de deflagrar a alteração da cúpula da petroleira. No encontro, ambas combinaram um cronograma de saída que deve ocorrer até o fim do mês.
Ficou acertado que, enquanto a presidente tenta encontrar novos nomes, Graça buscará concluir neste período o cálculo do impacto dos desvios de recursos investigados na Operação Lava Jato.
Trata-se de uma exigência para que o balanço da companhia seja finalmente auditado. A divulgação do valor também teria, aos olhos do governo, o efeito colateral de reduzir o desgaste de Graça.
Oficialmente, o Planalto negou que a saída de Graça tenha sido definida durante o encontro. "O que posso dizer é que essa questão não foi decidida na reunião entre ela [Dilma] e Graça Foster", afirmou o ministro Thomas Traumann (Comunicação Social).
O Palácio do Planalto procura um nome de fora da companhia, de preferência do mercado, que dê um choque de credibilidade à empresa, mas tem enfrentado dificuldades para encontrar um executivo que se disponha a assumir o controle da estatal em meio ao maior escândalo de corrupção de sua história.
Na sexta (30), Graça Foster reclamou com a presidente sobre a pressão que vem sofrendo e colocou, novamente, seu cargo à disposição.
Ao contrário das negativas anteriores, desta vez Dilma concordou com a saída da auxiliar, de quem é amiga. A posição de Dilma só mudou depois que o Conselho de Administração da empresa divulgou, na semana passada, uma baixa em seus ativos da ordem de R$ 88 bilhões, fruto de desvios e ineficiência na execução de projetos.
O número acabou fora do balanço não auditado referente ao terceiro trimestre de 2014, mas enfureceu Dilma, que considerou a conta descabida e superestimada. Para ela, conforme definiram assessores, a sua mera divulgação foi um "tiro no pé."
Na opinião de ministros, a chefe da empresa jamais poderia ter deixado que os consultores contratados para fazer o cálculo chegassem a um número tão alto sem contestação da metodologia.
O episódio acabou deteriorando ainda mais a situação financeira da Petrobras, que perdeu quase 3/4 de seu valor de mercado nos últimos anos devido à política de investimentos considerada inflada e à corrupção.
Dilma deflagrou no fim da semana passada, como revelou a coluna Painel, o processo de escolha de possíveis substitutos para o comando da Petrobras. A operação ficou a cargo do ministro Joaquim Levy (Fazenda).
Na próxima sexta (6), o ex-presidente Lula deve sugerir à sucessora o nome de Henrique Meirelles para a vaga. Ele e Dilma se encontrarão em Belo Horizonte no evento de comemoração dos 35 anos do PT. Assessores presidenciais ponderam que ela não simpatiza com Meirelles.
Outro que está no radar de auxiliares presidenciais é Murilo Ferreira, da Vale. Um ministro considera, no entanto, arriscada a indicação do executivo. O mercado espera uma opção menos identificada com Dilma, assim como foi feito na Fazenda.
Executivos foram sondados para ocupar o Conselho de Administração da Petrobras, mas a não divulgação do prejuízo com a corrupção adiou a definição do "grupo de notáveis".
Colaborou Catia Seabra, enviada especial a Brasília
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