Cientista político defende a redução da fragmentação entre as siglas e o fim do fundo partidário
Adriana Ferraz e Daniel Waterman | O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - O cientista político Luis Felipe d’Ávila, do Centro de Liderança Pública (CLP), afirma que deixar de promover a reforma política antes das próximas eleições significa assumir o risco de eleger uma espécie de "salvador da pátria", um demagogo. "Esse é o meu maior medo para 2018, que voltemos a cair nas mãos de populistas. Mas, se não aprovarmos a reforma, essa ideia se fortalece. Aí, sim, será uma crise muito mais séria porque estamos apenas começando a sair da UTI", afirmou na manhã desta quinta-feira, 27, durante o 'Debate Estadão: A Reforma Política que Queremos', organizado pelo Estado na sede da Fecomercio-SP, na capital paulista.
Palestrante do segundo painel do seminário, sobre a necessidade de se renovar a política e aumentar a representatividade da sociedade civil, dÀvila disse que "não haverá renovação política com as regras atuais". Segundo o cientista político, porém, antes de discutir novas normas práticas é preciso discutir novos valores para o sistema político.
"O primeiro valor fundamental para se resgatar a credibilidade do sistema é resgatar a responsabilização dos nossos políticos, resgatar a lealdade para com os eleitores. Esse divórcio (entre o representante e o representado) fez muito mal à democracia." Para dÀvila, a resposta para isso é o voto distrital que, segundo ele, tem a capacidade de reaproximar o parlamentar do eleitor e ainda aumentar a fiscalização por parte do eleitorado.
A necessidade de se reduzir a fragmentação partidária também foi lembrada pelo especialista. De acordo com ele, essa característica do modelo político vigente também não faz bem ao Brasil. "E o pior é que a fragmentação tende a crescer com o aumento do fundo partidário. Isso incentiva a criação de partidos políticos, já que há garantia do dinheiro em caixa todo mês."
Para dÀvila, a reforma tem de acabar com o fundo partidário. "Isso é fundamental. Hoje, não temos partidos de bandeira, de causa, no nosso presidencialismo", disse.
Sobre a renovação política, o cientista político diz que ela tem acontecido, sim, mas iniciada pelos municípios, onde há histórias de sucesso que, infelizmente, segundo ele, não se tornam nacionais. "Tem gente boa indo do setor privado para o público sem a pretensão de ter uma carreira política. Mas se a lei ficar como está, essa renovação dificilmente chega no Congresso."
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