sábado, 18 de março de 2017

O silêncio de Temer sobre Dilma

Jorge Bastos Moreno |- O Globo

Michel Temer foi surpreendido pelas críticas pesadas da ex-presidente Dilma Roussef a ele no “Valor” no exato momento em que amigos em comum constroem uma estrada para uma conversa institucional com Lula. Por isso, a leitura do presidente e de seus principais ministros é a de que, ciente dessas tratativas, Dilma quer tentar inviabilizar o diálogo, cutucando e esperando uma reação dele. Se essa conversa acontecer, ela poderá interessar ao governo e à oposição, dependendo dos temas, menos à ex-presidente deposta, que ficaria politicamente mais isolada do que já está.

Com exceção de Moreira Franco, o mais atingido pela entrevista da Dilma, o Palácio silenciou-se diante das críticas a Temer. E o faz também porque o presidente da República entende que, pela liturgia do seu cargo, não se deve responder a ninguém nesse mesmo tom, muito menos a uma mulher. E, se não pode, o melhor é ficar calado. É o que ele acha.

Dúvida
O fato de não responder a Dilma não impede ouvir comentários sobre as críticas da ex-presidente, na intimidade do governo, principalmente de Moreira Franco, o mais atingido. Disse-lhe o ministro:

— A sorte nossa é que ela não nos criticou em francês.

— Nossa ou dela?

Polêmica
Depois do discurso em que disse que as mulheres são boas para verificar flutuações de preços no supermercado, Temer foi consolado pelo próprio Moreira:

— Michel, nós somos do tempo antigo, você mais do que eu, quando mulher saía de casa para casar, cuidar de marido e filhos. Hoje, Michel, a mulher quer sair de casa para trabalhar, construir sua vida de acordo com seus próprios valores e opções. Você não vê novela?

Como consolo, até que vale. Ou não. Não sei.

O que vem por aí
Pelo menos nove procuradores da República em São Paulo estão escalados para receber parte das delações da Odebrecht.

Eles vão conduzir investigações sobre políticos e administradores locais, sem foro no STF, denunciados por receber propina da empreiteira.

Ao que tudo indica, a Odebrecht tinha uma vasta rede de suborno no estado.

Mosca azul
O ministro Gilmar Mendes, uma espécie de conselheiro-geral da República, está ameaçando trocar definitivamente Brasília por Lisboa, onde tem um apartamento.

Ameaça de mentirinha, pois ainda tem uma carreira profícua pela frente no Supremo Tribunal Federal.

Seus amigos dizem que ele só deixa o país depois de governar Mato Grosso, seu estado. Mas ele está de olho é em outra coisa.

Questão de estilo
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, torceu nariz para a proposta de referendo da ministra Cármen Lúcia para reforma eleitoral.

Paradoxalmente, para estimular a apresentação de emendas de lista com financiamento público e descriminalização do caixa 2, diz que esses temas devem ser debatidos à luz do dia com a sociedade.

E qual é a maneira mais direta e rápida de discutir com a sociedade do que consultá-la pelo voto, deputado?

Espantalho
Depois que saiu aqui que o padre paulista José Eduardo benzeu o Alvorada e a residência oficial da Câmara contra os maus espíritos, o sacerdote está sendo convidado para exorcizar algumas outras residências de Brasília contra as presenças de agentes da PF. Mas esse tipo de trabalho, o padre se recusa a fazer.

Conto de fadas
Depois da lista de Janot 2, ninguém mais passou a ter medo de ser citado no terceiro volumes dos diálogos de Fernando Henrique, enquanto presidente.

Apesar de que, nessas conversas, FH ser sempre o mocinho e seus interlocutores, vilões.

Fala, Alckmin!
Alguns políticos paulistas são comedidos nas definições de certas palavras que podem suscitar malícias. Alckmin, por exemplo, esta semana, ao falar da movimentação no gabinete de um ex-secretário, depois que uma funcionária posou para a “Playboy”, disse:

— A vida naquela secretaria tornou-se um inferno, lotada de gente que queria ver a moça que posou... com pouca roupa.

Ele queria dizer “nua”.

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