Diretor da PF diz que não anunciou arquivamento de apuração sobre Temer
- O Globo
BRASÍLIA - Numa carta enviada aos servidores da instituição, o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, negou que tenha anunciado o arquivamento do inquérito sobre supostas irregularidades cometidas pelo presidente Michel Temer na edição do decreto dos portos. O diretor não desmente, no entanto, que falou sobre a inexistência de indícios contra Temer ou que tenha mencionado a hipótese de punição ao delegado Cleyber Lopes, responsável pelas investigações contra o presidente.
“Afirmo que, em momento algum, disse à imprensa que o inquérito será arquivado. Afirmei, inclusive, que o inquérito é conduzido pela equipe de policiais do Ginq (Grupo de Inquéritos Especiais) com toda autonomia e isenção, sem interferência do diretor-geral", disse o diretor no texto endereçado a delegados, peritos, agentes, escrivães e papiloscopistas.
O diretor escreveu a carta depois da reação em cadeia dos presidentes de associações de delegados, peritos e agentes, descontentes com as declarações sobre suposta falta de provas no inquérito sobre Temer.
No texto, Segovia tenta ainda justificar os motivos pelos quais se manifestou sobre o conteúdo do inquérito. “Acompanho e acompanharei com cuidado e atenção exigida todos aqueles casos que passam a ter grande repercussão social, é meu dever, é o que caracteriza o cargo de direção máxima desta instituição, é o que farei", diz o diretor. Num esforço para demonstrar que não tenta abafar as investigações, Segovia argumenta que dobrou o número de delegados disponíveis para as investigações da Operação Lava-Jato.
SEM REFERÊNCIA A DELEGADO
No texto, Segovia não fala diretamente a respeito dos comentários que fez sobre eventual punição ao delegado do caso. Disse apenas que confia “nas equipes que cumprem com independência as mais diversas missões". O diretor diz ainda que o compromisso dele é manter os valores republicanos da polícia.
Na entrevista à Reuters, Segovia disse que não existem indícios de irregularidades na edição do decreto dos portos. Disse ainda que o inquérito sobre o caso deve ser encerrado com sugestão de arquivamento em menos de três meses. Também afirmou que, se Temer fizer reclamação formal, o delegado do caso estaria sujeito a eventuais punições. Recentemente, o presidente reclamou das perguntas da PF sobre o decreto dos portos.
Em conversas com auxiliares mais próximos, Segovia alegou que os comentários dele sobre o delegado teriam sido distorcidos. A explicação é que o diretor falou sobre o assunto de forma genérica ao comentar o caso da delegada Érika Marena, investigada por supostos excessos numa investigação sobre o ex-reitor da Universidade de Santa Catarina. Ele teria dito que a polícia tem mecanismos de controle interno, que podem levar à punição de eventuais deslizes.
TRANSCRIÇÃO PARA BARROSO
A carta, com as explicações parciais, não baixou a temperatura interna. Os delegados esperavam que o diretor-geral viesse a público dizer que tudo não passou de um equívoco, que as declarações sobre o inquérito e sobre o delegado teriam sido distorcidas. Mas, para eles, isso não aconteceu. Para o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, permanece o descontentando com o diretor.
— O simples fato dele dizer que não tem elementos, não tem provas, isso, por si só, causa um problema sério. Mais na frente, se o Cleyber concluir que não tem provas, vão dizer que ele cedeu à pressão. Se ele decidir que tem provas, que tem que indiciar o presidente da República, como fica o dirigente máximo da Polícia Federal? — questiona o presidente da ADPF.
Cleyber Lopes está em viagem ao exterior e deve retornar ao Brasil na próxima semana. Ao longo da manhã de ontem, Segovia chegou a cogitar a divulgação de uma nota. Mas, logo depois, mudou de ideia e decidiu escrever uma carta aos servidores. Também mandou assessores transcreverem a entrevista à Reuters para que seu conteúdo seja entregue ao ministro Luís Roberto Barroso depois do Carnaval.
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