- O Globo
A crise derruba previsões para o PIB e muda receituários para a economia tão rapidamente quanto o vírus se propaga
As previsões do PIB brasileiro estão despencando num ritmo que atordoa. A cada momento é um banco ou consultoria que está levando o número para a recessão. Já se fala em menos 3%. Por isso a corrida no governo é para tirar o atraso e anunciar medidas. O maior desafio será fazê-las funcionar. Setores e estados também estão na mesma busca de soluções. Ontem o governador Helder Barbalho, do Pará, conversou com a Vale e ouviu da diretoria que a empresa pretende manter as atividades no mesmo ritmo. E o que acontece com um setor que não pode parar, nem que queira? O de vidros, por exemplo. Mas alguns clientes estão suspendendo a produção. A economia está cheia de desencontros assim.
Quando há uma parada brusca da atividade econômica, cada um é apanhado em um ponto, alguns em contrapé total. E é esse conjunto de atingidos que o Brasil verá no nível individual e corporativo. Há milhões de brasileiros cuja capacidade de geração de renda está entrando em colapso e por isso o Ministério da Economia tem anunciado medidas de socorro. Algumas repetem ações que foram adotadas em governos petistas, como a de complementar o salário do trabalhador com redução de jornada.
Quando mudam as circunstâncias, muda-se o receituário. Há muita dúvida sobre a capacidade de formulação e de implementação de políticas sociais ativas por parte desse governo, mas a boa notícia é que na Câmara dos Deputados há algum tempo o presidente Rodrigo Maia vinha incentivando um grupo de deputados a ouvir os especialistas e traçar programas sociais. E ontem, na coletiva concedida pelo Ministério da Economia, o secretário de Trabalho e Previdência, Bruno Bianco, disse que tudo tem sido conversado com o presidente da Câmara até para haver mais rapidez na aprovação dos projetos de lei. A economia precisa de urgência. E de entendimento.
Outra boa notícia é que os governadores não estão parados e cada um está tentando adotar medidas de mitigação da crise. Conversei ontem com o governador do Pará, Helder Barbalho, e ele disse que dois pontos fundamentais da economia paraense são a Vale, com a atividade de mineração, e o agronegócio. E que os dois permanecerão produzindo.
— Nas últimas 72 horas começaram a cair as previsões de receita. Tinha uma meta de superávit de R$ 15 milhões que não vou cumprir. Estou mandando um decreto de calamidade para a Assembleia e os deputados vão constituir uma comissão para acompanhar os gastos. São medidas preventivas para caminhar nesta crise.
Na segunda-feira o governador Barbalho vai anunciar um pacote que proíbe o corte do fornecimento de água e luz por falta de pagamento. Além disso, o Banco do Estado do Pará vai oferecer R$ 100 milhões em empréstimos a pequenas empresas, com juros de 0,2%. Valores pequenos de R$ 15 mil. Para focar no pequeno mesmo. O dinheiro virá dos dividendos que o banco pagaria ao Estado.
Na economia, muitos setores estão em situação complexa. O repórter Alvaro Gribel, da coluna, falou com Lucien Belmonte, da Abividro. Ele acha que a economia vai ‘dar uma capotada’ em dois a três meses.
— O setor de supermercados vende mais, mas o resto não vende nada. No nosso setor há peculiaridades. Ele é intensivo em energia e são contratos nem sempre flexíveis. Precisa flexibilizar. Mas não sai nada sobre isso e o ministro está doente. As nossas fábricas não podem parar. Não existe a possibilidade de desligar o forno. Nosso processo é contínuo. Não é um forno de pizza. Custa R$ 100 milhões. Podemos chegar ao limite de trabalhar parte da produção, quebrar o vidro para virar caco e jogar de volta. Dois dos clientes de vidros planos são a indústria automobilística e a construção civil. As montadoras vão parar. Na construção, quem vai encomendar um box?
Belmonte acha que falta o governo olhar a pequena empresa, porque é o empresário que não tem folga de caixa. Nas políticas sociais também o desafio é chegar no mais frágil. Há diversas medidas que atingem quem tem emprego, como a anunciada ontem que permite reduzir a jornada e diminuir o salário. Ou o pagamento dos primeiros 15 dias pelo INSS de quem for afastado por coronavírus. A medida que foi formulada para ajudar os informais, como disse aqui, pega apenas parte deles, a que está nos cadastros. Mas há os invisíveis, os pobres fora das listas e que precisam ser encontrados com a rapidez que a crise impõe. É preciso correr na luta da saúde, e enfrentar na economia os efeitos devastadores da propagação do vírus.
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