- Folha de S. Paulo
Empresários que apoiavam protestos pró-governo agora dão sinais de mau humor
Pouco depois do primeiro panelaço contra Dilma Rousseff, em março de 2015, o Datafolha perguntou a opinião da população sobre a presidente. A petista sofreu um tombo considerável. De cada três brasileiros que, no mês anterior, consideravam o governo ótimo, bom ou regular, um mudou de ideia.
Dilma já havia perdido apoio na classe média e entre os mais ricos na virada para o segundo mandato. A pesquisa mostrou que esse derretimento chegou aos mais pobres depois do tarifaço que elevou as contas de luz e o preço dos combustíveis.
Com o fracasso gerencial da crise do coronavírus, Jair Bolsonaro também começou a ouvir panelas, mas o grande risco para sua popularidade está incubado. Os efeitos mais graves da paralisação da economia serão sentidos ao longo nas próximas semanas. Por enquanto, é possível enxergar sinais do mau humor.
A insatisfação atingiu empresários que, há poucos dias, apoiavam com entusiasmo os protestos contra o Congresso apadrinhados por Bolsonaro. Eles perceberam, enfim, que o presidente é despreparado para enfrentar uma crise na saúde com efeitos econômicos catastróficos.
O panelaço em regiões onde Bolsonaro venceu o PT por margens amplas é um sintoma adicional e prematuro dessa indignação. O grande teste do governo será a resposta ao colapso que vai atingir todos os andares da pirâmide social.
Bolsonaro venceu a disputa de 2018 porque expandiu seu eleitorado: das franjas que se identificavam com o discurso extremista para alas mais moderadas. O presidente teve a oportunidade de explorar a crise atual, gerada por fatores externos, para consolidar o apoio desse segundo grupo. Preferiu, entretanto, manter o comportamento radical.
Nesses quase 15 meses de mandato, muitos eleitores podem ter hesitado, mas continuaram ao lado do presidente porque não ligavam para os alertas de risco à democracia, declarações insensatas e polêmicas indecentes. Agora, no entanto, o país passou do ponto do golden shower.
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