sábado, 29 de janeiro de 2022

Alvaro Costa e Silva: Caô bolsonarista

Folha de S. Paulo

Menos para o aposentado e o estudante; muito mais para o centrão

O caô vem aí. Durante a campanha eleitoral, ao ser confrontado com o desastre que é seu governo, Bolsonaro vai dizer que não o deixaram trabalhar e depois arrolar os suspeitos de sempre: o STF, os governadores, os prefeitos, a imprensa, sem esquecer os comunistas que, apesar das camisas vermelhas como sangue, têm o dom de se esconder no breu das esquinas, armados com foice e martelo.

Imagine você se ele não pudesse fazer nada, nem passear de moto e jet-ski, nem se engasgar com camarão na praia. Tampouco sabotar a vacinação ou comparecer ao cercadinho num dia cujos compromissos da agenda oficial foram todos desmarcados. Imagine se suas mãos, mesmo atadas com cordas, não tivessem manejado a famosa caneta Bic, gastando toda a tinta dela na destruição do país. Não teríamos, por exemplo, os vetos de Bolsonaro no Orçamento de 2022.

Com seu jamegão, o homem que mostra tanto cuidado com nossas crianças retirou R$ 402 milhões da educação básica, afetando o programa de transporte escolar e a oferta de ensino integral (viva o homeschooling!). O Ministério da Educação sofreu no total um corte de R$ 740 milhões. Acresce o fato de que, com a pandemia, as escolas brasileiras ficaram fechadas por mais tempo do que na maioria dos países.

Bolsonaro fez sumir R$ 1 bilhão do INSS. Pense na fila de espera pela concessão de benefícios, que já era de 1,8 milhão de pessoas. Menos para o aposentado e o estudante, mas muito mais para os políticos: foram mantidas as verbas do fundo eleitoral (R$ 4,9 bilhões) e do orçamento secreto, mecanismo no qual não é especificado o destino do dinheiro público —o que na prática oficializa a corrupção.

Caô é uma gíria que nasceu nas favelas cariocas, muitas das quais dominadas hoje por milicianos. No caso de algum bolsonarista não ligar o nome à pessoa, significa fraude, papo furado, conversa fiada, mentira contada com intenção de enganar.

 

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