EDITORIAIS
É oportuna nova parceria do TSE com
WhatsApp
O Globo
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem se
esmerado num cuidadoso trabalho para evitar que não se repitam este ano as
campanhas de desinformação e ataques sórdidos frequentes em aplicativos de
mensagens em 2018. O passo mais recente foi dado na quinta-feira, quando o TSE
informou a criação de um canal no WhatsApp, pertencente à empresa americana
Meta, para que mensagens em massa sejam denunciadas.
A medida foi acordada entre o ministro Luís
Roberto Barroso, presidente do tribunal, e Will Cathcart, chefe do aplicativo
de mensagens presente na quase totalidade dos smartphones brasileiros. Será o
aprimoramento de um projeto semelhante colocado em prática antes das eleições
municipais de 2020. A parceria ainda prevê acesso a serviços da Justiça
Eleitoral, como consulta sobre o local de votação. Se bem executadas, essas
iniciativas provarão que aplicativos de mensagens podem ajudar a fortalecer a
democracia, não ser uma fonte de discurso de ódio, calúnia e teorias
conspiratórias.
Cathcart fez bem ao informar que não implementará novas funcionalidades de grande impacto até o fim do processo eleitoral. Uma das novidades que vinham sendo debatidas e agora foi suspensa era a expansão da capacidade de disseminação de mensagens. Um disparo continuará a alcançar, no máximo, 256 pessoas, o que parece razoável.
A postura aberta ao diálogo do WhatsApp é a
oposta da adotada pelo rival Telegram. Criada por russos e com sede em Dubai, a
empresa defendida pelo presidente Jair Bolsonaro não impõe limite ao envio de
mensagens, não tem endereço no Brasil e não responde às notificações da Justiça
Eleitoral.
Diante disso, é acertado considerar a
suspensão do Telegram antes do início da campanha. Como diz Barroso, “nenhum
ator relevante no processo eleitoral de 2022 pode operar no Brasil sem
representação jurídica adequada, responsável pelo cumprimento da legislação
nacional e das decisões judiciais”. Além do TSE, o Telegram está sendo alvo de
apurações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
Merece nota que o Congresso tenha retomado
o interesse pelo assunto. É alvissareira a intenção da cúpula da Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News de reiniciar os trabalhos
em fevereiro. Criada em 2019, foi suspensa um ano depois por causa da pandemia
do coronavírus. Na Câmara dos Deputados, há sinais de que o projeto de lei das
fake news será pautado até março.
É imprescindível que a opinião pública siga
atenta ao tema nos próximos meses. Não está descartada uma contraofensiva de
propagadores de fake news sob o disfarce de defensores da liberdade de
expressão. Na quinta-feira, Bolsonaro manteve o costume de falar com apoiadores
em frente ao Palácio da Alvorada. Em um dado momento, um deles perguntou: “E o
Telegram?” À medida que o WhatsApp começou a cooperar mais com o TSE, a base de
apoio bolsonarista passou a migrar para o aplicativo russo. O presidente
respondeu que era “uma covardia” o que estavam querendo fazer com o Brasil e
que trataria do assunto.
Mesmo com atraso, aprovação de testes
caseiros ajudará a combater pandemia
O Globo
Embora tenha vindo com atraso, não deixa de
ser relevante a aprovação unânime ontem pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) do uso de autotestes para detectar a Covid-19. A venda
desses produtos no Brasil, atualmente utilizados em larga escala em outros
países, estava proibida por uma resolução da Anvisa editada em 2015, que vedava
o fornecimento a leigos de produtos que tenham a finalidade de diagnosticar
doenças infecciosas de notificação compulsória, como é o caso da Covid-19. Mas
a própria resolução dizia que a decisão poderia ser reformulada pela direção
colegiada, o que foi feito ontem.
Os autotestes, que são mais simples, mais
rápidos e mais baratos que o RT-PCR, podem desempenhar um papel importante
neste momento de explosão de casos na pandemia — o Brasil vem batendo recordes
sucessivos. É sabido que postos de saúde e laboratórios privados não têm
conseguido dar conta do aumento súbito da demanda. A Associação Brasileira de
Medicina Diagnóstica (Abramed) chegou a recomendar aos laboratórios
particulares que testassem apenas os casos graves. Os centros de testagem de
estados e municípios vivem lotados. Sem testar, não se conseguem isolar os
doentes, dificultando o controle da pandemia. A vantagem do teste caseiro é que
o cidadão infectado pode iniciar logo o isolamento, interrompendo a cadeia de
transmissão.
Como mostra a experiência internacional, os
autotestes também podem ajudar a reduzir as absurdas taxas de subnotificação.
Por aqui, falta repensar algumas estratégias para que isso ocorra de forma
eficiente. Por decisão do Ministério da Saúde, nos casos positivos, o cidadão
deverá procurar um posto de saúde para confirmar o diagnóstico. Fazer uma
pessoa sabidamente infectada sair de casa não faz o menor sentido. O ideal é
que existisse a possibilidade de informar o resultado ao ministério pela
internet, como ocorre em outros países.
É preciso observar que a aprovação da
Anvisa não significa que os testes estarão disponíveis imediatamente. Ainda que
fabricantes tenham estoques prontos para serem vendidos, eles terão de submeter
o pedido para uso desses produtos à Anvisa, que analisará caso a caso, podendo
aprová-los ou não. A medida é necessária para evitar que os consumidores sejam
enganados. As autoridades têm agora o desafio de tomar as medidas cabíveis para
que autotestes de qualidade estejam disponíveis antes que a variante Ômicron
entre em declínio após milhões de infecções evitáveis.
Já se perdeu muito tempo. A decisão sobre o
uso dos autotestes já poderia ter sido tomada no dia 19 de janeiro, quando a
diretoria da Anvisa se reuniu para analisar o pedido feito pelo Ministério da
Saúde, mas na época a agência adiou o parecer alegando que o Ministério não
havia apresentado uma política para distribuição dos testes. O mantra agora é agilidade.
Cobrar o passaporte
Folha de S. Paulo
Exigência de comprovação de vacina precisa
se generalizar, inclusive nas escolas
O expressivo recrudescimento da Covid-19
registrado nesta semana no país não apenas reaviva os temores com relação à
doença como deixa mais claro do que nunca a importância da vacinação geral, sem
a qual o vírus prosseguirá circulando, com risco de produzir novas e mais
agressivas cepas.
Nesta sexta (28), o
Brasil contabilizou nada menos que 257.239 casos confirmados da
enfermidade. Com isso, a média móvel de infecções nos últimos sete dias atingiu
a marca de 183.203, a maior já registrada desde o início da pandemia.
A tendência de alta é clara. Na comparação
com a média de 14 dias atrás, observa-se aumento de mais de 150% nas
contaminações.
As hospitalizações seguem escalada parecida.
A ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva cresceu em 18 estados e no
Distrito Federal. Ao menos nove unidades da Federação já contam 80% ou mais das
vagas públicas de UTI para Covid-19 em uso, contra quatro na semana anterior.
Embora ainda longe dos piores momentos, as
mortes também saltaram de modo alarmante. Nesta sexta foram anotados 779
óbitos, fazendo com que a média móvel alcançasse o patamar mais alto (472)
desde o início de outubro.
Nesse cenário, é essencial que se
generalize no país a cobrança do passaporte vacinal, medida que a um só tempo
aumenta a proteção coletiva e serve como forte incentivo para que mais pessoas
se imunizem, reduzindo a transmissão comunitária do patógeno.
Além de compulsório em eventos,
estabelecimentos comerciais, repartições públicas, aeroportos e aparelhos
culturais, o comprovante de imunização precisa também ser exigido, ao menos
para os alunos maiores de 12 anos, nas escolas que agora iniciam o ano letivo,
como já ocorre com as vacinas obrigatórias da infância.
Afigura-se preocupante, pois, que apenas
sete estados tenham, até o momento, expressado a intenção de requerer a
comprovação.
Do governo Jair Bolsonaro não se pode
esperar nada senão tumulto e desinformação, como mostra a escandalosa nota
técnica produzida pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,
comandado por Damares Alves.
No documento, a pasta se manifesta contra a
necessidade da imunização infantil e do passaporte vacinal, dois dos mais
recentes cavalos de batalha do bolsonarismo.
Como se o despautério fosse pouco, o
ministério ainda incentiva que o Disque 100, canal governamental de denúncias
de violações dos direitos humanos, seja
usado por aqueles que não se vacinam para relatar "discriminações" sofridas
—o que além de deturpar o serviço pode vir a sobrecarregá-lo.
Traz algum alento que ao menos órgãos de
Estado sigam fazendo a sua parte. Nesta sexta (28), a Anvisa enfim autorizou
no país o uso dos autotestes.
A iniciativa, contudo, será de pouca valia para o controle da pandemia se não
houver uma distribuição massiva e gratuita dos produtos à população.
Restringi-los ao uso comercial, como
defende o Ministério da Saúde, só beneficiará uma pequena elite. Resta esperar
que estados e municípios corrijam mais essa omissão flagrante do governo
federal.
Alheios ao país
Folha de S. Paulo
Magistrados do TJ-SP, com dois meses de
férias, querem bônus por muito trabalho
Ainda nesta semana tratou-se
aqui dos privilégios injustificáveis nos órgãos do sistema de Justiça
do país, devido à revelação de uma farra de verbas indenizatórias pagas pelo
Ministério Público Federal. Neste momento, está em gestação uma nova benesse a
ser espetada na conta dos contribuintes.
Trata-se, como noticiou a Folha, do pleito
no Tribunal de Justiça de São Paulo por um bônus mensal a ser
concedido a magistrados que acumulam trabalho, equivalente a um terço do
salário. O tema foi levantado pelo vice-presidente da corte, Guilherme
Gonçalves Strenger, e consta que outros tribunais oferecem benefício similar.
Só um total alheamento em relação à
realidade do país, típico de aristocracias, pode explicar a ousadia de tal
reivindicação. Um desembargador do TJ recebe salário oficial de R$ 35,5 mil,
valor que corresponde a mais de 14 vezes a renda média dos trabalhadores brasileiros
—de R$ 2.444, segundo os dados recém-divulgados pelo IBGE.
Com outros ganhos extrassalariais, a
remuneração efetiva dos magistrados pode chegar aos R$ 56 mil, quase 23 vezes a
renda média nacional e muito acima do teto fixado para o serviço público, de R$
39.293,32. Entre os penduricalhos pagos pelo tribunal está o auxílio-saúde, há
pouco elevado de 3% para 10% do salário.
Não será demais lembrar que os
profissionais do TJ, como todos os servidores públicos estatutários, gozam de
estabilidade no emprego e passaram incólumes —sem nem mesmo redução de jornada
de trabalho e vencimentos— pela crise devastadora provocada pela pandemia no
mercado de trabalho.
Por fim, quanto ao alegado excesso de
trabalho, recorde-se que os magistrados do país têm o direito esdrúxulo a dois
meses de férias remuneradas. A supressão dessa norma descabida, como previsto
em proposta de emenda constitucional que tramita no Congresso, decerto traria
contribuição importante à produção dos tribunais.
Nova desculpa para manter estatais
O Estado de S. Paulo.
A existência de estatais deveria ser
norteada por políticas públicas e por evidências de incapacidade de entrega por
parte do setor privado
O governo pretensamente liberal de Jair
Bolsonaro arrumou agora uma nova missão para justificar a existência da Empresa
de Planejamento e Logística (EPL) e da Valec, vinculadas ao Ministério da
Infraestrutura. O secretário nacional de Transportes Terrestres da pasta,
Marcello Costa, disse ao Estadão que há planos para que as duas companhias
possam vender serviços de consultoria e de formulação de projetos às empresas
interessadas em construir ferrovias por meio de autorizações. Essa ideia,
segundo ele, poderia retirar as duas estatais da situação de dependência do
Tesouro Nacional, condição em que é preciso contar com recursos do Orçamento
para despesas com pessoal e de custeio.
A novidade é apenas mais uma prova da
mentira contada na campanha de 2018, quando o então futuro ministro da
Economia, Paulo Guedes, prometia arrecadar R$ 1 trilhão em privatizações. Três
anos se passaram, duas novas empresas públicas foram criadas e nenhuma foi vendida.
O País hoje conta com 155 estatais, das quais 18 dependem de aportes da União –
foram R$ 19,4 bilhões em subvenções em 2020, mais que o dobro do valor que o
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) terá para manter
todas as rodovias neste ano. Para além do desperdício de recursos, é também uma
evidente violação da Constituição, que em seu artigo 173 estabelece que “a
exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei”, ressalvados casos previstos na própria
Carta Magna.
Em tese, a existência de uma empresa como a
EPL até teria justificativa. Inicialmente, ela foi criada para desenvolver o
trem-bala, mas, com o fracasso do projeto, assumiu a tarefa de estruturar as
concessões para oferecê-las à iniciativa privada, em etapas que vão desde os
estudos de viabilidade até a assinatura do contrato. Ela é também responsável
pelo planejamento da infraestrutura de transportes de longo prazo e pela
integração entre os modais rodoviário, ferroviário, aeroviário e aquaviário
nacionais, algo de importância incontestável e que deve ser liderado pelo setor
público. Mas é justamente o sucesso dos leilões de infraestrutura, com forte
interesse e disputa entre o setor privado, que dispensa a manutenção da Valec,
palco de investigações por suspeitas de corrupção sob o comando de apadrinhados
do PL, partido de Valdemar Costa Neto e, agora, do presidente Jair Bolsonaro.
A verdade é que o governo tem contado com o
trabalho de servidores da EPL e da Valec para elaborar os projetos de
infraestrutura nos últimos anos, no lugar do Grupo de Estudos para Integração
da Política de Transportes (Geipot), criado em 1965 e extinto em 2002. Seria
mais sincero, por parte do Ministério da Infraestrutura, debater a relevância
dessa função de planejamento em vez de vender uma nova ilusão, segundo a qual a
elaboração de projetos ao setor privado seria capaz de conferir autonomia
econômica e financeira às companhias. Sobre a ideia anterior de fundir as duas
companhias e enxugar custos, anunciada pelo próprio ministro Tarcísio de
Freitas, nenhuma palavra: é como se nunca tivesse existido.
Por que razão empresas com capacidade de
construir ferrovias de custo bilionário por conta própria teriam alguma
dificuldade de contratar consultorias privadas e precisariam da expertise das
estatais? Mesmo que isso acontecesse, qual seria a chance de a venda desses
serviços superar o prejuízo anual que elas causam ao Tesouro? Sob o estrito
argumento constitucional, tanto a EPL quanto a Valec já deveriam ter sido
extintas, mas não se deve esperar nada de um presidente cujo único projeto é a
reeleição. Privatizar, de qualquer forma, não deveria ser uma bandeira eleitoral
em si mesma, mas parte de um plano de governo consistente cujo objetivo final
seja a eficiência. Já a manutenção dessas empresas, se realmente necessária,
deveria ser norteada por políticas públicas, além de evidências de incapacidade
de entrega dos serviços por parte do setor privado.
A doença como ativo eleitoral
O Estado de S. Paulo
A campanha antivacinação do governo extrapola a análise objetiva da administração pública e resvala para o questionamento do caráter de seus membros
Ahistória do País revela que houve governos
ruins, houve governos péssimos e, agora, há o governo de Jair Messias
Bolsonaro. O que o presidente da República faz no curso desta pandemia de
covid-19, ou permite que façam em seu nome, não encontra equivalências no rol
de sofrimentos já provocados aos brasileiros pelos erros, intencionais ou não,
cometidos por seus antecessores. Agir contra a vacinação da população, das
crianças em particular, extrapola todos os limites.
Em todo o País, há registro de aumento do
número de casos de covid-19 e de internações em UTIS. A variante Ômicron, muito
mais contagiosa do que outras cepas do coronavírus, está em franca
disseminação. Ao menos seis Estados e o Distrito Federal (DF) estão próximos do
limite de sua capacidade de atendimento hospitalar. Sabese que só as vacinas
podem impedir o colapso do sistema de saúde e, consequentemente, salvar muitas
vidas. Mas, ainda assim, a despeito de todo o avanço científico alcançado em
tão pouco tempo, o presidente da República e alguns de seus ministros seguem
inabaláveis em uma perversa campanha contra a vacinação dos brasileiros.
Entender o que está por trás desse
comportamento vai além do campo das avaliações objetivas que podem ser feitas
sobre o governo e resvala para o questionamento do caráter dos atuais
formuladores de políticas públicas. Como indivíduos com poder sobre o destino
de milhões de seus concidadãos são capazes de usar este poder orientados apenas
por seus interesses particulares, ainda que isso represente riscos para a vida
e a saúde das pessoas?
Vejam-se os exemplos do ministro da Saúde,
Marcelo Queiroga, e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,
Damares Alves. Cada um a seu modo, ambos transformaram as pastas que chefiam em
casamatas para defesa dos interesses eleitoreiros do chefe, além de seus
próprios interesses, comprometendo a qualidade da resposta federal à emergência
sanitária.
Noticia-se que tanto Queiroga como Damares
têm pretensões eleitorais e são estimulados por Bolsonaro a se candidatar neste
ano. Como dedicados bolsonaristas que são, tanto um como outro sabem que
medidas estapafúrdias podem escandalizar a maioria da população, mas têm
potencial de lhes garantir os votos de uma minoria que podem ser suficientes
para elegê-los para cargos no Poder Legislativo. Os recentes atos dos dois
ministros, portanto, devem ser vistos à luz da campanha eleitoral que se
avizinha.
Em nota do Ministério da Saúde, Queiroga
recomendou aos pais que procurem “orientação médica” antes de vacinar seus
filhos contra a covid-19. É um despautério. Para nenhuma outra doença
infecciosa contra a qual há vacinas é recomendada essa “orientação”. O ardil
retórico do ministro da Saúde chega a ser cruel. Em situações normais, quem
haveria de achar estranha a recomendação de orientação médica? Porém, no
contexto da pandemia, o que Queiroga pretende, na verdade, é apenas instilar
nos pais a dúvida sobre a segurança das vacinas que serão aplicadas nas
crianças, dificultando o avanço da imunização no País.
Damares Alves, por sua vez, houve por bem
criar um canal para que os cidadãos que se sintam “discriminados” por terem de
apresentar o chamado passaporte da vacina possam “denunciar” os
estabelecimentos que exijam o comprovante. O que a ministra fará com essas
denúncias não se sabe, pois, a rigor, exigir o passaporte da vacina não
constitui crime e menos ainda uma violação de direitos individuais. A não ser,
é claro, na concepção muito deturpada que bolsonaristas como Damares têm do que
vem a ser liberdade individual.
As ações e omissões do governo Bolsonaro em
apenas três anos, particularmente nos dois últimos, demandarão novos parâmetros
de análise dos historiadores no futuro. Afinal, não há mal maior já infligido
ao País pelo poder público do que as mortes de milhares de pessoas em
decorrência da covid-19 que poderiam ter sido evitadas caso a desídia, o
egoísmo, a falta de compaixão e a incompetência administrativa não fossem as
marcas da atuação do governo federal no enfrentamento da crise sanitária.
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