O Estado de S. Paulo
Marielle: não há crime perfeito, há investigações malfeitas ou feitas para dar em nada
O avanço das investigações sobre o
assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes é, como a defesa efetiva dos
territórios yanomamis, uma derrota para o governo Bolsonaro e uma vitória para
o de Lula. Um lavava as mãos e gerava desconfiança sobre o real interesse em
desvendar o crime, enquanto Lula já assumiu com o compromisso de ir às últimas
consequências para responder a duas perguntas: quem matou Marielle? Por quê?
Marielle era e é uma síntese de diversidade, complexidade e injustiça no Brasil: mulher, negra, linda, vereadora, de origem pobre e LGBTQIA+. E ela dedicava a carreira política e a vida a proteger os mais vulneráveis e a perseguir os agressores poderosos. Virou símbolo de coragem nas comunidades pobres e ameaça para as milícias. Por uma coincidência cheia de simbologia, as investigações dão um salto justamente quando uma outra síntese encanta o Brasil na Copa: Ary Borges.
Pelo crime, lá se vão cinco anos, foram
presos os ex-policiais Ronnie Lessa, autor dos tiros, e Élcio de Queiroz, que
dirigia o carro. Que motivo eles teriam para matar Marielle e Anderson? A
resposta é: dinheiro, porque os dois são milicianos, assassinos de aluguel. Com
a delação premiada de Élcio, surgiu a nova operação da PF, que prendeu o
ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, e fez sete buscas e apreensões.
O ministro Flávio Dino (Justiça), que pegou
o touro a unha desde a posse, já tinha avisado que haveria “novidades” e,
agora, deixa no ar que as apurações estão bem mais avançadas do que parecem.
Logo, cresce a esperança de que o crime que abalou o Rio de Janeiro e o Brasil
e ganhou manchetes internacionais seja, finalmente, desvendado. Vamos todos
saber quem, e por que, mandou matar a vereadora que enfrentava poderosos e
milicianos.
Desde 2018, houve várias mudanças nas
equipes da Polícia Civil do Rio, da PF e do Ministério Público, e a então
procuradora-geral, Raquel Dodge, fez tudo para federalizar as investigações,
mas em quem confiar, nas autoridades do Rio ou de Brasília? Afinal, Bolsonaro
foi acusado pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e respondeu a processo no
Supremo por interferência na PF.
Mudaram o presidente, o governo, o ministro
da Justiça, a PF e foi criado até o Ministério da Igualdade Racial, ocupado
por... Anielle Franco, irmã de Marielle e tão guerreira como ela. As condições
são outras e solucionar o crime é uma questão de honra para o governo e para a
Nação. Como reforça Flávio Dino, “não existe crime perfeito”. O que há são
investigações imperfeitas, ou propositalmente feitas para não dar em nada. Não
é mais o caso.
2 comentários:
PENSANDO BEM, PODE ACONTECER QUE MAXWELL VENHA TER UM NOVO COMPANHEIRO DE CELA NA PAPUDA: TALKEY
Pois é.
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