Folha de S. Paulo
O Oscar está a ponto de cometer a maior
injustiça contra um ator desde que negou o prêmio a Rin-Tin-Tin
Em reportagem de Fernanda Talarico, fico
sabendo que o grande injustiçado do Oscar deste
domingo (10) será um cachorro. Trata-se de
Messi, o border collie do filme "Anatomia de Uma Queda", da francesa
Justine Triet. É um drama de tribunal em que ele interpreta Snoop,
um cão superdotado. O mundo gira e o Oscar não se livra de seu formalismo. Pelo
simples fato de ser cachorro, Messi não pode concorrer ao Oscar de melhor ator
—talvez para alívio de Ryan Gosling e Jeffrey Wright e certamente de Robert De
Niro, candidatos ao prêmio.
Com a avançada idade de oito anos na vida real, Messi estréia na tela e já é considerado a maior revelação animal do cinema desde Flipper, o golfinho que nadava de costas, dava gargalhadas e falava francês. O nome é uma homenagem a Lionel Messi, claro, e os dois ainda não foram apresentados porque o craque teme ser ofuscado por seu xará canino. É um risco que ele pode correr pelo que se viu há pouco numa entrevista coletiva em Cannes, quando Messi deu um baile em seus colegas de elenco.
Por que a Academia não lhe dará o prêmio?
Porque, quase 100 anos depois, ela ainda se ressente do Oscar de melhor ator
que ia conceder ao fabuloso pastor-alemão Rin-Tin-Tin na primeira cerimônia de
todas, em 1929. O sindicato dos atores fez um escarcéu: "O quê? Premiar um
cachorro? Nunca!". A Academia, covardemente, retirou o prêmio de
Rin-Tin-Tin e o transferiu-o para Emil Jannings, ator alemão radicado em
Hollywood, pelo filme "O Anjo Azul". E ali decidiu nunca premiar um
animal.
Para que serviu o Oscar de Emil Jannings?
Para que, ao voltar para a Alemanha em 1933 e aderir ao nazismo, tenha usado o
Oscar para se defender, em 1945, quando os Aliados bateram à sua porta para
prendê-lo. Jannings brandiu a estatueta como se fosse um crucifixo e bradou:
"I have Oscar! I have Oscar!".
Não adiantou. Foi levado assim mesmo, pedalando o ar.
Um comentário:
Que história!
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