Folha de S. Paulo
Em poucos dias, se vê como escolhas de
governo mexem na economia e no socorro do RS
Em uma semana, decisões e preferências do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
mexeram com a medula da finança do país, com
a empresa brasileira mais importante e criaram ruído no mínimo
inconveniente no até agora razoável conjunto de ações federais para
atenuar a desgraça no
Rio Grande do Sul. Em vez de dizer que são "decisões políticas",
como se houvesse decisões ideais dos anjos tecnocráticos, são decisões e
preferências que vão do contraproducente ao ruim.
Na semana passada, a direção do Banco Central decidiu por cinco votos a quatro diminuir o ritmo de corte da Selic de 0,5 ponto para 0,25 ponto percentual. Em termos materiais, a diferença é quase esotérica. Os diretores nomeados por Lula preferiam corte maior, mas os lados divergentes tinham argumentos razoáveis para justificar a decisão.
Como previsto, tal juízo não fez diferença na
praça do mercado, que passou a cobrar mais para emprestar no atacadão de
dinheiro e para manter seus haveres em reais.
O motivo óbvio dessa atitude é o fato de que
Lula, o governo quase inteiro e o PT acreditam e
alardeiam que Roberto
Campos Neto, presidente do BC, conspira para afundar a economia luliana.
Por esse raciocínio, assim que os nomeados de Lula forem maioria no BC, a
partir de janeiro, o complô mercadista estaria derrotado. Não importa a
inflação, a Selic baixaria.
É no que acredita pelo menos a maioria dos
donos do dinheiro e de seus administradores e porta-vozes. Ironicamente,
acreditam no que governo e petismo pregam. Por prevenção, cobram mais. As
condições financeiras pioram. A Selic ainda baixa, mas taxas de juros de prazo
maior do que um ano não param de subir.
Até agora, não há motivo para acreditar que
os nomeados de Lula para o BC serão paus mandados ou doidivanas. Se, em
maioria, no início de 2025 por abril, talharem a Selic sem boas justificativas,
estarão mortos. Dólar e juros de longo prazo subirão ainda mais, a economia de
Lula descerá ao brejo. O alarde lulista-petista não funciona.
Jean Paul Prates foi demitido da Petrobras
com humilhação. A ideia é que sua cabeça, espetada em uma estaca diante da
empresa, sirva de alerta para recalcitrantes. Isto é, para quem não acelere
investimentos em refinarias, navios nacionais, fertilizantes ou no que mais
Lula deseje. Lula 3 pode até querer fazer tudo isso, mas com dinheiro do
Orçamento federal, que poderia ser engordado por uma Petrobras eficiente.
Mas Lula quer fazer da empresa (como com
Itaipu) um Orçamento paralelo, a seu arbítrio. Ao burlar o objetivo específico
de uma intervenção do Estado (a petroleira estatal), cria ineficiências,
degrada o financiamento da empresa e a percepção do risco de investir no país.
Em tese, normas atuais dificultam a malversação administrativa. Mas já vimos de
tudo na Petrobras.
É sensato criar uma coordenação para
administrar o apoio federal à reconstrução gaúcha, um ministério provisório.
Valer-se de tal autoridade para incentivar candidaturas petistas é criar
barulho político inconveniente, além de dar pano para a manga da política de
mentiras e de propaganda anti-Estado (e governo) da extrema direita, do
bolsonarismo. Mas isso nem é o mais importante.
O socorro ao Rio Grande do Sul é uma
oportunidade para a criação de um embrião de autoridade climática. Ou, pelo
menos, de criar instituição de prevenções e reconstruções orientadas por
planejamento ambiental, condição para que sejam liberados dinheiros para
trabalhos de adaptação econômica, geográfica, tecnológica de regiões destruídas
ou sujeitas às destruições da mudança climática.
É uma oportunidade de fazer política grande,
transformadora, duradoura. Ajuda a poupar vida, bens; é bom para o país, para o
governo. Cadê?
2 comentários:
Per - fei - to !
Perfeito !
Lula está no caminho certo,parece,sei lá,rs.
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