domingo, 6 de abril de 2025

Aposta na vassalagem - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao vestir boné do MAGA, Tarcísio se associou a políticas que causarão prejuízo a SP

Em 20 de janeiro, Donald Trump tomou posse como 47º presidente dos Estados Unidos. No estado mais rico do Brasil, o governador vestiu o boné vermelho do republicano e festejou ao som do Village People: “Grande dia!”.

Tarcísio de Freitas não foi o único político brasileiro a comemorar a volta do bilionário à Casa Branca. Em Santa Catarina, o governador Jorginho Mello celebrou o retorno de Trump como “um alento para o mundo democrático”, que traria “novos horizontes para a economia global”. No Rio, Cláudio Castro trombeteou o início de uma gestão épica, “inspirada pelos princípios de liberdade, progresso e prosperidade”.

Os três imitavam Jair Bolsonaro, que vibrou com um convite para a posse dizendo que se sentia “criança de novo”. “Estou animado. Não vou nem tomar mais Viagra”, acrescentou o capitão. A excitação não comoveu o Supremo, que manteve seu passaporte retido para evitar uma tentativa de fuga.

As declarações a favor de Trump envelheceram rápido e mal. Em pouco mais de dois meses, o republicano já produziu estrago comparável ao de todo o primeiro mandato. Se a direita nativa não se importa com os ataques aos imigrantes, às universidades e ao meio ambiente, deveria se preocupar ao menos com a destruição econômica.

Guiado por um protecionismo tacanho, o republicano rasgou a cartilha liberal e deflagrou uma guerra comercial em escala planetária. Anunciado na quarta-feira, seu tarifaço derrubou as bolsas e instalou um clima de pânico no mercado financeiro. Na sexta-feira, o banco J.P. Morgan, insuspeito de esquerdismo, emitiu um alerta de risco de recessão global. O presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, avisou que as medidas produzirão mais inflação e menos crescimento. Vai sobrar para o mundo todo, inclusive para o Brasil.

O estado de Tarcísio deve ser o mais afetado. Segundo dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil, São Paulo responde por um terço das vendas brasileiras aos EUA, com destaque para aeronaves, equipamentos de engenharia e suco de laranja. Em 2024, isso significou a entrada de US$ 13,5 bilhões (o equivalente a R$ 78,7 bilhões, pelo câmbio de sexta-feira). Ao vestir o boné com o slogan Make America Great Again, o governador se associou a uma política que causará prejuízo e desemprego à população que o elegeu.

No dia em que Trump anunciou o tarifaço, Bolsonaro afirmou que o americano estaria “apenas protegendo seu país do vírus socialista”. Faltou explicar se ele se referia ao socialismo dos industriais ou dos barões do agronegócio. Todos perderão dinheiro com a sobretaxa de 10% sobre os produtos brasileiros.

A insensatez da oposição tende a ajudar o Planalto, que buscava um fato novo para estancar a queda da popularidade presidencial. Na quinta, Lula disse que não bate continência a outras bandeiras e prometeu tomar “todas as medidas cabíveis” para proteger empresas e trabalhadores brasileiros. Apresentou-se como defensor do interesse nacional, enquanto Bolsonaro e aliados redobram a aposta na vassalagem.

 

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