O Globo
Ao vestir boné do MAGA, Tarcísio se associou a políticas que causarão prejuízo a SP
Em 20 de janeiro, Donald Trump tomou posse
como 47º presidente dos Estados Unidos. No estado mais rico do Brasil, o
governador vestiu o boné vermelho do republicano e festejou ao som do Village
People: “Grande dia!”.
Tarcísio de Freitas não foi o único político
brasileiro a comemorar a volta do bilionário à Casa Branca. Em Santa Catarina,
o governador Jorginho Mello celebrou o retorno de Trump como “um alento para o
mundo democrático”, que traria “novos horizontes para a economia global”. No
Rio, Cláudio Castro trombeteou o início de uma gestão épica, “inspirada pelos
princípios de liberdade, progresso e prosperidade”.
Os três imitavam Jair Bolsonaro, que vibrou com um convite para a posse dizendo que se sentia “criança de novo”. “Estou animado. Não vou nem tomar mais Viagra”, acrescentou o capitão. A excitação não comoveu o Supremo, que manteve seu passaporte retido para evitar uma tentativa de fuga.
As declarações a favor de Trump envelheceram
rápido e mal. Em pouco mais de dois meses, o republicano já produziu estrago
comparável ao de todo o primeiro mandato. Se a direita nativa não se importa
com os ataques aos imigrantes, às universidades e ao meio ambiente, deveria se
preocupar ao menos com a destruição econômica.
Guiado por um protecionismo tacanho, o
republicano rasgou a cartilha liberal e deflagrou uma guerra comercial em
escala planetária. Anunciado na quarta-feira, seu tarifaço derrubou as bolsas e
instalou um clima de pânico no mercado financeiro. Na sexta-feira, o banco J.P.
Morgan, insuspeito de esquerdismo, emitiu um alerta de risco de recessão
global. O presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, avisou que as
medidas produzirão mais inflação e menos crescimento. Vai sobrar para o mundo
todo, inclusive para o Brasil.
O estado de Tarcísio deve ser o mais afetado.
Segundo dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil, São Paulo responde
por um terço das vendas brasileiras aos EUA, com destaque para aeronaves,
equipamentos de engenharia e suco de laranja. Em 2024, isso significou a
entrada de US$ 13,5 bilhões (o equivalente a R$ 78,7 bilhões, pelo câmbio de
sexta-feira). Ao vestir o boné com o slogan Make America Great Again, o
governador se associou a uma política que causará prejuízo e desemprego à
população que o elegeu.
No dia em que Trump anunciou o tarifaço,
Bolsonaro afirmou que o americano estaria “apenas protegendo seu país do vírus
socialista”. Faltou explicar se ele se referia ao socialismo dos industriais ou
dos barões do agronegócio. Todos perderão dinheiro com a sobretaxa de 10% sobre
os produtos brasileiros.
A insensatez da oposição tende a ajudar o
Planalto, que buscava um fato novo para estancar a queda da popularidade
presidencial. Na quinta, Lula disse que não bate continência a outras bandeiras
e prometeu tomar “todas as medidas cabíveis” para proteger empresas e
trabalhadores brasileiros. Apresentou-se como defensor do interesse nacional,
enquanto Bolsonaro e aliados redobram a aposta na vassalagem.
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