O Estado de S. Paulo
Políticos competirão entre si para provar
quem protege melhor seu povo de um mundo hostil
A guerra comercial lançada por Donald Trump
empobrecerá os EUA e o restante do mundo. Ela cria oportunidades para a China e
o Brasil. Mas será um incentivo ao nacionalismo, populismo e autoritarismo. As
tarifas são o instrumento para Trump concentrar poder. A sobrevivência das
empresas depende agora do poder imperial de Trump, que pode cobrar o que quiser
delas para restaurar sua viabilidade.
A imposição das tarifas a mais de 60 países parte de premissas e parâmetros falsos. Ao anunciá-las, Trump disse que “os EUA foram proporcionalmente mais ricos do que em qualquer outra época” entre 1789 e 1913, quando as tarifas eram mais altas e não havia imposto de renda. Em valores ajustados pela inflação, o PIB americano é hoje 23 vezes maior do que em 1913 e a renda per capita se multiplicou por 6.
CÁLCULO. O assessor de Comércio da Casa
Branca, Pete Navarro, afirmou que as tarifas atribuídas a cada país levaram em
conta barreiras não-tarifárias: impostos sobre valor agregado, obstáculos
regulatórios, restrições de licenças, quotas, manipulação cambial, subsídios,
atrasos e burocracias.
Não é verdade, até porque seria impossível
expressar tudo isso em um número. O que eles fizeram foi dividir o déficit
comercial pelas importações dos EUA em relação a cada país, em dólares, tirando
uma porcentagem. Trump alegou que, como os EUA são “gentis”, dividiram esse
número pela metade para definir a tarifa “recíproca”.
São alíquotas aleatórias, arbitrárias e
extorsivas. Os americanos apreciam carros alemães e japoneses, vinhos
franceses, queijos italianos, manufaturas chinesas, café colombiano, frutas
mexicanas. O Brasil festejou a tarifa de “apenas” 10%, alíquota mínima
aplicada. Pelo critério de Trump, o Brasil devia aplicar tarifa de 7,5%.
RESPOSTA. Os rivais China, Japão e Coreia do
Sul anunciaram a retomada das negociações para um acordo de livre comércio,
iniciadas em 2012, e o fortalecimento da Parceria Econômica Abrangente Regional
(RCEP), que reúne 15 países.
Segunda maior economia, a China emerge como
parceiro confiável, em contraste com os EUA, que rompem contratos. As
commodities agrícolas do Brasil e da Argentina substituirão as americanas.
A guerra comercial reforçará os instintos
autoritários já em ascensão no mundo. Os políticos competirão entre si para
provar quem protege melhor seu povo de um mundo hostil, governado não por
contratos, mas pela força bruta. •
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