Folha de S. Paulo
Livro sustenta que o impacto de atividades
humanas sobre a biosfera entre nas contas dos economistas
José Eli
da Veiga é um economista que gosta e entende de ciências —as de
verdade (desculpem-me não resisti à provocação). É também um dos sujeitos mais
eruditos que conheço. Quando Zé Eli se dispõe a escrever sobre um assunto, já
leu quase tudo de relevante que foi publicado sobre a matéria. E ele é metódico
ao explicitar suas fontes.
Daí que seus livros são sempre um ótimo mapa do caminho para quem quer assenhorar-se de um tema. Quem quiser se aprofundar pode ir às obras citadas; quem não quiser pode fiar-se em seu resumo do panorama das discussões. "O Antropoceno e o Pensamento Econômico", terceiro livro de sua trilogia sobre o impacto da humanidade na biosfera, não foge a esse padrão.
Para Zé Eli, a maioria dos manuais de economia tem
um problema, que é o de ser excessivamente mecanicista e ignorar a física mais
moderna, mais especificamente a termodinâmica e a entropia.
A forma extrativista de que nos valemos para
produzir coisas inevitavelmente degrada o sistema. Podemos e devemos tentar
minimizar nossas "pegadas", a de carbono, a da depleção dos recursos
naturais e a do aumento
de poluições diversas, mas não há mágica que permita fugir às leis da
termodinâmica.
Se formos reescrever os livros-texto levando
isso em conta e em consonância com a obrigação
moral de legar um mundo habitável para as próximas gerações, então
precisamos abandonar a ideia de que o crescimento econômico é a resposta
infalível para todos os nossos problemas sociais.
Fatores ambientais precisam entrar nas
equações ensinadas nos cursos de economia. É preciso desacoplar o bem-estar
humano de um contínuo aumento da produção e do consumo.
Zé Eli reserva várias páginas para mostrar
como esse desacoplamento pode ser feito. Não cai nem no pessimismo extremo dos
que afirmam que o decrescimento já é inevitável, nem no otimismo panglossiano
dos que dizem que o desenvolvimento tecnológico nos presenteará com uma saída
indolor. Basicamente, a responsabilidade é nossa —e estamos falhando.
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