sábado, 4 de julho de 2009

Keynes previu 15 h de trabalho por semana

Hélio Schwartsman
Da equipe de articulistas
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em 1931, John Maynard Keynes publicou um curto ensaio intitulado "Possibilidades Econômicas para Nossos Netos".

É um texto estranho, no qual o homem que salvou o capitalismo da ruína chega muito perto de advogar pelo fim do trabalho e dos juros.

O objetivo do opúsculo é combater a vaga de pessimismo com a perda de postos de trabalho provocada pela crise de 1929.

Keynes espertamente "resolve" o problema lançando-o para o futuro longínquo.

De acordo com o economista, a combinação de acúmulo de capitais com desenvolvimento científico-tecnológico, embora possa produzir numa primeira etapa o chamado desemprego estrutural, significa também "a solução para o problema econômico da humanidade".

Keynes prognostica um aumento tão acentuado da produtividade que, no prazo de cem anos, estaríamos em vias de nos livrar da necessidade de trabalhar para satisfazer as necessidades básicas. Para o autor, lá por 2030 não teríamos de trabalhar mais que 15 horas semanais e dedicaríamos o restante do tempo ao lazer e à cultura.

Com isso -e é aqui que o texto fica mais intrigante-, ocorreria uma espécie de emancipação moral do homem: a acumulação de riquezas deixaria de ser percebida como algo importante e estaríamos livres para retornar a uma ética mais tradicional que condena a avareza, a usura e o amor pelo dinheiro.

Pragmático, porém, Keynes alerta: "Este tempo ainda não chegou. Por pelo mais um século, devemos fingir para nós mesmos e para os outros que o justo é injusto, e o injusto, justo; pois o injusto é útil, e o justo, não".

Durante muito tempo, esse texto foi tratado como um simples "divertissement", uma obra menor.

Mais recentemente, entretanto, alguns economistas começaram a se perguntar por que o otimismo keynesiano não parece prestes a se materializar.

As respostas que constam do livro "Revisiting Keynes" variam bastante.

Embora o pensador britânico tenha acertado em relação ao forte crescimento econômico, ele negligenciou a questão da distribuição da riqueza. Também parece ter superestimado o desejo das pessoas de deixar de trabalhar, mesmo quando podem fazê-lo.

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