sábado, 4 de julho de 2009

Uma reprise da década de 30

Paul Krugman *
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Muito bem, o relatório de quinta-feira sobre o desemprego fecha a questão. Vamos precisar de um estímulo maior. Mas será que o presidente sabe disso? Façamos algumas contas.

Desde o início da recessão, a economia dos Estados Unidos fechou 6,5 milhões de postos de trabalho - e, como confirmado por esse desanimador relatório, os empregos continuam a se perder num ritmo acelerado. Se levarmos em conta os mais de 100 mil novos empregos mensais necessários simplesmente para acompanhar o crescimento da população, estamos afundados num buraco de cerca de 8,5 milhões de empregos.

E, conforme a profundidade do buraco aumenta, torna-se mais e mais difícil escaparmos dele. O número de desempregados não foi a única má notícia do relatório de quinta-feira, que mostrou uma estagnação nos salários e sinalizou com a possibilidade de um franco declínio nos mesmos. Trata-se de uma receita para a deflação ao estilo japonês, coisa que é muito difícil de reverter. Alguém falou em década perdida? Espere - as más notícias não terminaram: temos a crise fiscal nos Estados. Diferente do governo federal, os Estados são obrigados a se ater a orçamentos equilibrados. E diante da grande queda na arrecadação fiscal, a maioria está preparando agressivos cortes orçamentários, muitos deles aprovados à custa dos mais vulneráveis.

Além de produzir diretamente muita miséria, esses cortes vão deprimir ainda mais a economia. E o que temos em mãos para reverter estas perspectivas assustadores?

Temos o plano de estímulo de Obama, que pretende criar 3,5 milhões de empregos até o fim do ano que vem. Isso é muito melhor do que nada, mas está longe de ser suficiente. E não parece haver muito mais em andamento. Lembra-se dos planos do governo para reduzir drasticamente o número de execuções hipotecárias, ou o plano para fazer com que os bancos voltassem a emprestar removendo os ativos tóxicos dos seus balanços patrimoniais? Nem eu.

Tudo isso é de uma familiaridade deprimente para qualquer um que tenha estudado a política econômica dos anos 1930. Novamente um presidente democrata conseguiu a aprovação de medidas para criar empregos que aliviarão o declínio, mas não são suficientemente agressivas para promover uma recuperação completa. Novamente boa parte do estímulo no nível federal é anulado pelos recuos orçamentários no nível estadual e local.

Será que não fomos capazes de aprender com a história e estamos, assim, fadados a repeti-la? Não necessariamente - mas cabe ao presidente e à sua equipe de economistas garantir que as coisas sejam diferentes desta vez. O presidente Obama e seus funcionários precisam intensificar os seus esforços, começando por um plano para aumentar o estímulo.

Para que não haja dúvidas, deixo claro que sei muito bem como será difícil aprovar um plano desse tipo.

Não haverá cooperação dos líderes republicanos, que se contentaram com uma estratégia de oposição total, mantendo a naturalidade enquanto contrariam os fatos e toda lógica. De fato, esses líderes responderam aos mais recentes números do desemprego proclamando o fracasso do plano econômico de Obama. É claro que isso é absurdo. O governo alertou desde o início que levaria alguns trimestres até que os efeitos positivos do plano se fizessem sentir. Mas isso não impediu o presidente do comitê republicano de estudos de emitir uma declaração cobrando: "Onde estão os empregos?" Ainda não ficou claro se o governo vai receber apoio dos "centristas" do Senado, que evisceraram parte da versão original do plano de estímulo ao exigir cortes no auxílio aos governos estaduais e municipais, auxílio que, como vemos agora, era extremamente necessário. Gostaria de acreditar que alguns desses centristas estão arrependidos do que fizeram, mas se isso for verdade, ainda não vi provas que comprovem tal remorso.

E, enquanto economista, acrescento que muitos dos meus colegas de profissão estão desempenhando um papel destacadamente inútil.

Foi um imenso choque ver tantos economistas de boa reputação reciclando antigas falácias - como a afirmação que associava o aumento no gasto governamental a uma substituição automática de um volume idêntico de gastos privados, mesmo num contexto de desemprego em massa - e emprestando seus nomes a declarações descaradamente exageradas sobre os males dos déficits orçamentários no curto prazo.

(No momento, o risco associado a uma dívida adicional é muito menor do que o risco associado à falta de apoio adequado para a economia.) Além disso, como nos anos 1930, os opositores das medidas estão vendendo contos de terror a respeito da inflação enquanto somos ameaçados pela deflação.

Aprovar uma nova rodada de estímulo será difícil. Mas é algo essencial. Os economistas do governo Obama compreendem o que está em jogo. De fato, poucas semanas atrás, a presidente do Conselho de Assessores Econômicos, Christina Romer, publicou um artigo intitulado "As lições de 1937" - ano em que Franklin Delano Roosevelt cedeu aos falcões do déficit e da inflação, com desastrosas consequências tanto para a economia quanto para sua agenda política.

O que ainda não sei é se o governo já aceitou a inadequação daquilo que já foi feito até o momento.

Assim, eis aqui a minha mensagem para o presidente: É necessário botar imediatamente sua equipe de economistas e seus assessores políticos para trabalhar num pacote de estímulo adicional. Caso contrário, o governo logo enfrentará seu próprio 1937.

*Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia

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