O Banco Central começou este ano projetando uma entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) de US$ 45 bilhões. Até novembro, revelou nesta terça-feira, desembarcaram no Brasil US$ 60,1 bilhões. As novas estimativas são de que chegará aqui um total de US$ 65 bilhões em 2011 – uma diferença de nada menos que 44%.
Alguns economistas comemoram o recorde e essa surpreendente capacidade do Brasil de atrair capitais, mesmo num ano de forte crise internacional.
Outros, no entanto, vem tamanho potencial com suspeita. Entendem que boa fatia desses ativos não passa de aplicações de curto prazo destinadas à especulação com juros, disfarçadas de recursos de longo prazo com o objetivo de escapar do IOF, de 6%, do qual o IED está isento. Em junho, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Olivier Blanchard, defendeu esse ponto de vista.
Outro grupo de economistas prefere sustentar que essa forte entrada de capitais concorre para derrubar a cotação do dólar no câmbio interno – e, assim, para tirar competitividade do produto brasileiro, que fica mais caro em dólares. Ao longo de todo este ano, alguns dirigentes de entidades empresariais e economistas recomendaram que o governo deixasse de se omitir diante desse afluxo e rejeitasse com determinação a entrada de “capitais indesejados”. Isso implicaria instalar um serviço de seleção, como o do boiadeiro que se posta à porteira do mangueirão e decide que vaca pode e qual não pode entrar para um trato especial de ração.
A definição de critérios para o que deveria ser considerado “capital indesejável” é complicada, provavelmente inútil. Nessa armadilha o governo Dilma não caiu. Imagine-se o Brasil tão necessitado de capitais para seu desenvolvimento e, no entanto, disposto a esnobar a entrada de capitais estrangeiros.
Assim, uma equipe de burocratas examinaria qual investimento atenderia ou não aos interesses nacionais.
Uma vez liberada, não há como rastrear a aplicação de um dinheiro que não leva carimbo. Uma empresa já pode ter em caixa recursos para investimento futuro e, ainda assim, preferir trazer mais de fora e, em seguida, aplicá-los em outra atividade. Isso mostra que essas propostas voluntaristas não têm cabimento.
Neste ano (até novembro), nada menos que 54,8% do IED se destinou ao setor de serviços (eletricidade, serviços financeiros, comércio, telecomunicações, etc.). Outros 33,7% foram para as atividades primárias (agropecuária e mineração). E apenas 10,1% tomaram o rumo da indústria.
Por aí se vê que também na destinação do IED a indústria vai perdendo importância em relação ao total do setor produtivo do Brasil. Parte dos líderes do empresariado usa estatísticas como essa para denunciar o que entende como “processo crescente de desindustrialização no Brasil”. E, no entanto, não é a indústria que está se tornando nanica; é o setor de serviços que vai ganhando corpo – algo natural ao processo de desenvolvimento econômico de um país.
CONFIRA
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado nesta terça mostra clara desaceleração das contratações no Brasil – vê-se no gráfico. Em 12 meses (até novembro), 2,3 milhões de postos foram criados, 20% a menos do que no mesmo período em 2010 (2,9 milhões).
Retificação . Como bem observou o leitor Flávio Brunetti Zullo, há um erro na coluna passada, no 3º parágrafo. “Quando embicar para baixo”, a cotação do dólar não provocará desvalorização do real, como ficou escrito. Trará, sim, a sua valorização.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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