Os números do emprego formal divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, que mostram um novembro fraco, com a criação de apenas um terço dos postos de trabalho em relação ao mesmo período de 2010, são mais um sinal de desaceleração da economia. As demissões na indústria reforçam o inferno astral desse segmento tão importante e refletem o estado de espírito do empresariado, reticente em relação ao futuro.
A crise externa já nos afeta de várias formas e o cenário lá fora é de grande incerteza, o que leva as empresas a apertar os cintos. O empresário não vê motivos para investir e ofertar mais vagas, principalmente na indústria, onde a ociosidade está alta, falta mão de obra especializada e os custos subiram.
- A percepção do risco aumentou, porque está mais difícil fazer previsões para o ano que vem. Um cenário muito difuso aumenta a percepção de risco, aumenta a desconfiança do empresário - observa o economista André Perfeito, da Corretora Gradual.
Ele vê nos números do emprego um sinal de que, além da desaceleração esperada da economia, decorrente das medidas de contração do crédito e cortes no Orçamento promovidos pelo governo, o mercado de trabalho está sendo afetado pelas expectativas do empresariado em relação ao futuro, que não são nada animadoras.
Diante desse quadro de tantas incertezas, aumenta o peso e o papel do governo nesse esforço para estimular a atividade econômica e impedir que a crise externa nos carregue ladeira abaixo.
O governo aposta na redução da taxa de juros como forma de reativar a economia, mas a queda da Selic precisa chegar ao consumidor final, o que depende da percepção do mercado sobre os riscos futuros. Se as incertezas aumentarem, se o cenário externo permanecer confuso, a tendência é que o prêmio de risco também aumente e as taxas subam, ao invés de caírem. No plano interno, o quadro fiscal pode ser um complicador, destaca Perfeito.
- O governo não fez ajuste fiscal este ano pela redução de gastos, mas com o aumento do PIB. Se o PIB cai, o mercado vai reagir e subir os juros, prevendo um resultado fiscal ruim futuro.
Sintonia fina é a palavra de ordem para enfrentar a crise, na visão de Luiz Otávio Leal, do Banco ABC Brasil. Na opinião do economista, o governo precisa ser proativo, adotando medidas de incentivo para estimular os setores mais afetados pela crise, mas não pode errar a mão:
- Se exagerar nas isenções fiscais vai ficar difícil administrar a área fiscal.
Emprego I
O economista Rafael Bacciotti, da Tendências, confirma que os números divulgados pelo governo sobre emprego refletem a desaceleração da economia, como mostra o gráfico acima.
- O mercado de trabalho demorou, mas agora já sente a desaceleração - afirma.
Bacciotti prevê que esse mercado continuará crescendo em 2012, mas em ritmo moderado. Estima que a taxa média de desemprego ficará em 6% em 2011 e em 5,8% no ano que vem. José Márcio Camargo, da PUC-Rio, prevê crescimento fraco em 2012, o que deve afetar o emprego.
Emprego II
O IBGE divulga amanhã a pesquisa que mede a taxa de desemprego nas capitais. A consultoria Tendências estima que a desocupação, atualmente em 5,8%, cairá para 5,6%. Já o Itaú Unibanco aposta em 5,7%. No fim do ano, essa taxa costuma diminuir por conta das contratações do comércio para as vendas do Natal. No começo de 2012, com as demissões dos temporários, deve subir um pouco.
Crédito novo
Mais de 3 milhões de consumidores podem ter renegociado suas dívidas neste fim de ano na campanha de recuperação de crédito da Serasa Experian, que contou com a participação de 308 empresas. O número superou os 2,7 milhões de 2010. Além disso, 6,3 milhões tiveram acesso facilitado ao crédito. O objetivo da campanha foi sensibilizar empresas a aproveitar o período que antecede o Natal para promover a recuperação de crédito.
FONTE: O GLOBO
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