Em nova versão, nem ministra nem presidente da CEF sabiam de antecipação de pagamento
Ministro da Justiça confirma que PF investiga também empresa de telemarketing por origem de boatos.
O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, afirmou ontem que a decisão de antecipar o pagamento dos benefícios do Bolsa Família na véspera da circulação dos boatos sobre o fim do programa foi tomada pela área operacional do banco, sem consulta a ele ou à ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social). Hereda pediu desculpas pela Caixa ter informado na semana passada, erroneamente, que a antecipação era uma medida emergencial para conter os tumultos. A Polícia Federal investiga se a antecipação do pagamento provocou a onda de saques e se houve participação de uma central de telemarketing do Rio.
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Presidente da Caixa agora diz que 1º escalão do governo desconhecia antecipação do Bolsa Família
Demétrio Webe
BRASÍLIA - O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, afirmou ontem que a antecipação do pagamento dos benefícios do Bolsa Família foi decidida exclusivamente pela área operacional da CEF, sem consulta à cúpula instituição ou do governo. Ele disse que técnicos do banco chegaram a avisar a colegas da área técnica do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, no próprio dia 17 de maio, uma sexta-feira, quando teve início o pagamento dos benefícios. Mas ressalvou que a ministra Tereza Campello, assim como ele, não foi comunicada.
Hereda admitiu que o banco divulgou informação errada sobre a liberação de pagamentos antecipados do Bolsa Família. Ele confirmou que a permissão de saques fora do calendário foi feita intencionalmente pela instituição no último dia 17, véspera da onda de falsos boatos sobre o fim do programa, e não por medida emergencial para conter tumultos nos dias 18 e 19, sábado e domingo, quando milhares de beneficiários do programa lotaram agências em 13 estados, inclusive no Rio de Janeiro. Hereda pediu desculpas.
- Essa imprecisão só se justifica pelo momento que a gente estava vivendo, e eu peço desculpas a todos pelo engano dessa manifestação da gente - afirmou o presidente da CEF.
Ele disse que somente na segunda-feira, dia 20, já após os tumultos, é que ficou sabendo que os saques antecipados tinham sido liberados na sexta-feira e não durante o fim de semana. Naquela mesma segunda-feira de manhã, o vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa, José Urbano Duarte, declarou à TV Globo que a liberação tinha sido ordenada no sábado, numa resposta à confusão - naquele fim de semana, cerca de 900 mil beneficiários sacaram R$ 152 milhões, um movimento considerado atípico. O mesmo foi afirmado por Tereza Campello à tarde.
Uma semana de espera para esclarecer caso
Ontem, Urbano admitiu que estava desinformado. Ele contou que deu ordem para que os saques pudessem ser antecipados já no sábado. A partir das 13h, a Caixa detectara um aumento incomum de beneficiários retirando dinheiro nas máquinas de agências em todos os estados do Nordeste, no Rio, no Amazonas, no Pará e no Amapá. Sem saber que os saques fora do calendário estavam liberados desde a véspera, Urbano e Tereza teriam determinado a antecipação com o objetivo de evitar um tumulto ainda maior.
Isso porque os saques costumam seguir um calendário escalonado, com base no último dígito do cartão magnético. A antecipação não significou um benefício extra para ninguém, mas a possibilidade de receber dinheiro alguns dias antes.
Hereda disse que esperou uma semana para esclarecer o caso porque precisava de tempo para juntar as informações e entender com clareza o que havia ocorrido. Ele disse que estava de posse das informações já na última sexta-feira. A entrevista coletiva de ontem só foi convocada, no entanto, depois que o jornal "Folha de S.Paulo" revelou, no sábado, que a antecipação de pagamentos tinha começado na véspera dos boatos.
- Meu amigo, eu sou presidente de um banco. Eu não vou a público dizer uma parte da informação sem ter todas as informações levantadas - disse o presidente da Caixa.
Hereda acrescentou que, se agisse de forma diferente, seria irresponsável. Sentado ao seu lado, estava Urbano, que semana passada deu entrevista com a informação desmentida ontem:
- É sabido, tem se falado muito que a Caixa mentiu na hora em que ele (Urbano) foi fazer a entrevista. No momento em que estamos vivendo uma crise, o único pensamento que a Caixa tinha era esclarecer as pessoas. Tivemos uma informação equivocada com relação à data em que se abriu o sistema, e isso gerou uma informação imprecisa da Caixa - afirmou Hereda.
No último sábado, a Caixa divulgou nota em que dizia que a antecipação era consequência de melhorias no Cadastro de Informações Sociais, sugerindo problema de informática. Ontem, Hereda e Urbano esclareceram que a decisão da área operacional de liberar os saques para qualquer beneficiário já no primeiro dia de pagamento teve como objetivo evitar contratempos a 692 mil beneficiários que apareciam com registro duplo no sistema. Sem a liberação, havia o risco de que essas pessoas fossem ao banco na data marcada e não conseguissem sacar o dinheiro, já que o cadastro foi atualizado. Hereda disse que a equipe operacional imaginou que não era preciso avisar ninguém sobre a antecipação porque, em média, apenas 70% dos beneficiários sacam o dinheiro no dia marcado. Eles têm até 90 dias para fazer isso depois.
- Repito: essa não é uma decisão que passa pela diretoria da Caixa. É uma decisão específica de uma área operacional da Caixa que paga Bolsa Família há dez anos. Essa área não procura o presidente nem o conselho diretor da Caixa para pedir permissão para fazer o seu trabalho - disse Hereda.
Fonte: O Globo
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