terça-feira, 28 de maio de 2013

O sub do sub do sub: Governo culpa 3º escalão por erro no Bolsa Família

Em nova versão, nem ministra nem presidente da CEF sabiam de antecipação de pagamento

Ministro da Justiça confirma que PF investiga também empresa de telemarketing por origem de boatos.

O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, afirmou ontem que a decisão de antecipar o pagamento dos benefícios do Bolsa Família na véspera da circulação dos boatos sobre o fim do programa foi tomada pela área operacional do banco, sem consulta a ele ou à ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social). Hereda pediu desculpas pela Caixa ter informado na semana passada, erroneamente, que a antecipação era uma medida emergencial para conter os tumultos. A Polícia Federal investiga se a antecipação do pagamento provocou a onda de saques e se houve participação de uma central de telemarketing do Rio.

Os últimos a saber

Presidente da Caixa agora diz que 1º escalão do governo desconhecia antecipação do Bolsa Família

Demétrio Webe

BRASÍLIA - O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, afirmou ontem que a antecipação do pagamento dos benefícios do Bolsa Família foi decidida exclusivamente pela área operacional da CEF, sem consulta à cúpula instituição ou do governo. Ele disse que técnicos do banco chegaram a avisar a colegas da área técnica do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, no próprio dia 17 de maio, uma sexta-feira, quando teve início o pagamento dos benefícios. Mas ressalvou que a ministra Tereza Campello, assim como ele, não foi comunicada.

Hereda admitiu que o banco divulgou informação errada sobre a liberação de pagamentos antecipados do Bolsa Família. Ele confirmou que a permissão de saques fora do calendário foi feita intencionalmente pela instituição no último dia 17, véspera da onda de falsos boatos sobre o fim do programa, e não por medida emergencial para conter tumultos nos dias 18 e 19, sábado e domingo, quando milhares de beneficiários do programa lotaram agências em 13 estados, inclusive no Rio de Janeiro. Hereda pediu desculpas.

- Essa imprecisão só se justifica pelo momento que a gente estava vivendo, e eu peço desculpas a todos pelo engano dessa manifestação da gente - afirmou o presidente da CEF.
Ele disse que somente na segunda-feira, dia 20, já após os tumultos, é que ficou sabendo que os saques antecipados tinham sido liberados na sexta-feira e não durante o fim de semana. Naquela mesma segunda-feira de manhã, o vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa, José Urbano Duarte, declarou à TV Globo que a liberação tinha sido ordenada no sábado, numa resposta à confusão - naquele fim de semana, cerca de 900 mil beneficiários sacaram R$ 152 milhões, um movimento considerado atípico. O mesmo foi afirmado por Tereza Campello à tarde.

Uma semana de espera para esclarecer caso

Ontem, Urbano admitiu que estava desinformado. Ele contou que deu ordem para que os saques pudessem ser antecipados já no sábado. A partir das 13h, a Caixa detectara um aumento incomum de beneficiários retirando dinheiro nas máquinas de agências em todos os estados do Nordeste, no Rio, no Amazonas, no Pará e no Amapá. Sem saber que os saques fora do calendário estavam liberados desde a véspera, Urbano e Tereza teriam determinado a antecipação com o objetivo de evitar um tumulto ainda maior.

Isso porque os saques costumam seguir um calendário escalonado, com base no último dígito do cartão magnético. A antecipação não significou um benefício extra para ninguém, mas a possibilidade de receber dinheiro alguns dias antes.

Hereda disse que esperou uma semana para esclarecer o caso porque precisava de tempo para juntar as informações e entender com clareza o que havia ocorrido. Ele disse que estava de posse das informações já na última sexta-feira. A entrevista coletiva de ontem só foi convocada, no entanto, depois que o jornal "Folha de S.Paulo" revelou, no sábado, que a antecipação de pagamentos tinha começado na véspera dos boatos.

- Meu amigo, eu sou presidente de um banco. Eu não vou a público dizer uma parte da informação sem ter todas as informações levantadas - disse o presidente da Caixa.

Hereda acrescentou que, se agisse de forma diferente, seria irresponsável. Sentado ao seu lado, estava Urbano, que semana passada deu entrevista com a informação desmentida ontem:

- É sabido, tem se falado muito que a Caixa mentiu na hora em que ele (Urbano) foi fazer a entrevista. No momento em que estamos vivendo uma crise, o único pensamento que a Caixa tinha era esclarecer as pessoas. Tivemos uma informação equivocada com relação à data em que se abriu o sistema, e isso gerou uma informação imprecisa da Caixa - afirmou Hereda.

No último sábado, a Caixa divulgou nota em que dizia que a antecipação era consequência de melhorias no Cadastro de Informações Sociais, sugerindo problema de informática. Ontem, Hereda e Urbano esclareceram que a decisão da área operacional de liberar os saques para qualquer beneficiário já no primeiro dia de pagamento teve como objetivo evitar contratempos a 692 mil beneficiários que apareciam com registro duplo no sistema. Sem a liberação, havia o risco de que essas pessoas fossem ao banco na data marcada e não conseguissem sacar o dinheiro, já que o cadastro foi atualizado. Hereda disse que a equipe operacional imaginou que não era preciso avisar ninguém sobre a antecipação porque, em média, apenas 70% dos beneficiários sacam o dinheiro no dia marcado. Eles têm até 90 dias para fazer isso depois.

- Repito: essa não é uma decisão que passa pela diretoria da Caixa. É uma decisão específica de uma área operacional da Caixa que paga Bolsa Família há dez anos. Essa área não procura o presidente nem o conselho diretor da Caixa para pedir permissão para fazer o seu trabalho - disse Hereda.

Fonte: O Globo

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