Julho vai pela metade e as conversas políticas nos indicam que essa balbúrdia na base e na economia não terminará tão cedo. E a depender do cenário, talvez nem a reforma ministerial resolva. É fato que, à exceção das empresas estatais que a presidente criou, o grande número de ministérios foi concebido mais para pendurar a ampla base aliada na administração pública do que qualquer outra coisa. Portanto, extingui-los sem abrigar os políticos vai piorar as relações com os partidos acostumados à vida na Esplanada, ainda que isso seja, muitas vezes, na visão de alguns, apenas um carro preto com placa verde e amarela.
Integrar Aviação Civil e Portos aos Transportes, por exemplo, deixa o PR com um caminhão maior do que o seu motor político sustenta no Congresso. E aí, quem vai chiar mais do que está chiando hoje é o PMDB, que perde a Secretaria de Aviação Civil sem a garantia de ficar com o mega ministério dos Transportes. E, se o PR perder transportes, não será difícil ver mais conversas entre o senador Alfredo Nascimento (AM) e seu colega Aécio Neves, presidente do PSDB e pré-candidato à Presidência da República contra Dilma em 2014.
Uma reforma ministerial agora, se não for feita de forma pensada e correta, dará ao PSDB a ferramenta que o senador Aécio Neves procura desde o início do ano para quebrar a base do governo "por dentro". E, quebrar a base por dentro, é como um vírus de computador. Dependendo da tecla que a presidente Dilma aperta, pode deixar entrar um vírus maior do que aqueles que estão por aí minando seu governo internamente. Por isso, há quem aposte que ela deixará essa reforma para depois do prazo de filiações partidárias em setembro, quando terá mais clareza do jogo para o ano que vem.
Enquanto isso, nos bastidores do Congresso...
O problema é que, se Dilma esperar demais, pode ter outros problemas ou fazer uma reforma que chegue com cara de velha, o que também não ajudaria seu governo. A contar pelo que os políticos dizem entre quatro paredes a respeito do ministro Aloizio Mercadante, ele chegará enfraquecido ao papel de articulador, se for confirmada a sua troca da Educação para a Casa Civil, com mais poderes de influir na seara do que tem hoje a ministra Gleisi Hoffmann.
Não é de hoje que os congressistas acusam Mercadante de ser o mentor de todas as mazelas que o governo impõe a si próprio e ao Congresso nesta temporada de 2013. Está na conta dele a constituínte exclusiva, o plebiscito e também a vontade de dizer que a crise não termina por culpa dos congressistas, que não fazem a reforma política. Você, leitor, há de convir que essas acusações não parecem ser assim... Um coquetel de boas vindas. Especialmente, a um ministro novo neste momento, que deve chegar com ares de novidade, bem ao estilo, "agora vai". Afinal, a situação é delicada tanto na base aliada e quanto na economia. E não há sinal de trégua no horizonte em nenhuma das frentes de conflito.
E no plenário...
Esta semana, por exemplo, haverá uma queda de braço para votar a Lei de Diretrizes de Orçamentárias com os líderes governistas torcendo pelo recesso. Não vai colar. E por um motivo muito simples: a base que, como bem definiu o líder do PMDB, Eduardo Cunha, "finge ser governo", quer trocar a LDO pelo orçamento impositivo para suas emendas.
A rebelião contra a votação da LDO começa pelo relator do texto, deputado Danilo Forte, e tem o respaldo da grande maioria dos deputados que não vê a hora ter as emendas ao orçamento liberadas automaticamente, sem passar pela tesoura de equipe econômica.
Diante desse quadro, a saída será o recesso branco, ou seja, deixar a LDO como único item da pauta. Assim, saem de cena as medidas provisórias, os vetos , os pedidos para convocação de ministros para explicar as mazelas no PAC.
Por falar em recesso...
O meu não será branco. A coluna Entrelinhas sai de férias por um mês. Afinal, se for esperar um momento tranquilo na política e na economia para recarregar as baterias, só mesmo depois das eleições do ano que vem e olhe lá. Até a volta!
Uma reforma ministerial agora, se não for feita de forma pensada e correta, dará ao PSDB a ferramenta que o senador Aécio Neves procura desde o início do ano para quebrar a base do governo "por dentro"
Fonte: Correio Braziliense
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