Dilma Rousseff ganhou a reputação de gerente severa, tocadora de obras e estrategista do desenvolvimentismo graças à propaganda explícita e ao persistente trabalho dos assessores anônimos da capital federal, com seus relatos mirabolantes de projetos ambiciosos e broncas nos subordinados.
Nos tempos de Lula, era mais fácil a tarefa dos que queriam acreditar na mitologia brasiliense. A mãe do PAC apresentava periodicamente balanços das obras em andamento e gráficos coloridos com setas que interligavam rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, oleodutos e linhas de transmissão de energia. Ninguém entendia nada, mas o país, afinal, estava ficando mais rico.
Virtualmente encerrado o mandato da presidente (as eleições do próximo ano já interessam mais, no Executivo e no Legislativo, que a administração do presente), sua imagem de mentora do Brasil Maior tem tanta credibilidade quanto seu diploma de doutorado em economia.
As seguidas decepções e o desalento quase definitivo com os resultados do PIB forjaram outra narrativa, a da governante sem traquejo no trato com congressistas e empresários, de medidas erráticas e improvisadas, ministério semiamador e mais ranço ideológico que pragmatismo.
Mas, se esses são os anéis perdidos, Dilma preserva o principal capital político-eleitoral herdado de Lula, com uma boa dose de contribuição pessoal. Expõe uma mensagem crível de preocupação social, em contraste com as fofocas, conchavos e escândalos de que se ocupa a classe dirigente nacional.
Ampliou em proporções inéditas as verbas para o Bolsa Família e, com dividendos menos imediatos, a educação. A pobreza e a desigualdade caíram, ainda que não tanto quanto o governo propaga; o emprego e a renda estão melhores que antes.
A manhã pode começar com a zombaria da "Economist", mas o dia termina com o crescimento no Ibope.
Fonte: Folha de S. Paulo
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