Organizações que assumiram a linha de frente da defesa de Lula tiveram presença tímida
Ricardo Balthazar| Folha de S. Paulo
SÃO PAULO E SÃO BERNARDO DO CAMPO - Quando chegou à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, na manhã desta sexta-feira (6) para expressar solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-deputado petista Expedito Soares olhou para o helicóptero nos céus, praguejou contra a Rede Globo e lembrou-se do fim da ditadura militar (1964-1985).
“Os helicópteros dos militares que vigiavam nossas assembleias passavam uma vez e iam embora, enquanto esse aí veio para ficar o dia inteiro”, disse Soares, integrante da diretoria que assumiu o sindicato com Lula em 1978 e o primeiro deputado estadual eleito pelo PT em São Bernardo do Campo, em 1982.
Aos 66 anos, Soares ganha a vida como advogado e está longe da política. Afastou-se do PT decepcionado com o escândalo do mensalão, que marcou o primeiro mandato de Lula. Mas fez questão de ir ao sindicato nesta sexta para estar ao lado do antigo companheiro.
“O PT cometeu muitos erros, mas também houve acertos”, disse. “Não posso concordar com a perseguição política que Lula e o PT sofrem hoje.”
Ao chegar ao sindicato, arriscou um palpite: “Vão ter que mandar a polícia bater no povo para entrar e levar Lula”. Não foi preciso.
A multidão que se formou em frente ao sindicato ao longo do dia mal conseguiu reunir gente suficiente para preencher o quarteirão em frente e na lateral do prédio. Com a decisão de Lula de permanecer no local para negociar as condições de sua apresentação às autoridades, não houve confronto.
Organizações que assumiram a linha de frente da defesa de Lula, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), tiveram presença tímida. Liderado pelo presidenciável Guilherme Boulos (PSOL), o grupo participou da vigília em São Bernardo do Campo com uma barraca na calçada do sindicato e duas dezenas de militantes.
A Apeoesp, o poderoso sindicato que representa os professores da rede pública no Estado de São Paulo, recrutou adolescentes pobres na periferia de São Paulo para engrossar sua representação no ato em defesa de Lula. Um homem que fazia parte do grupo e não quis se identificar disse à Folha que recebeu a promessa de um pagamento de R$ 30 para estar ali.
A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, disse que até o fim do dia traria 2.000 professores ao local e negou que a entidade tivesse oferecido pagamento a qualquer pessoa. “Trouxemos alunos e pais de alunos que também estão lutando pela democracia”, disse.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) despachou vinte lideranças para São Bernardo do Campo. A entidade realizou assembleias durante o dia nas refinarias da Petrobras para avaliar a disposição da categoria para aderir a uma greve em solidariedade a Lula, mas as primeiras respostas colhidas pela entidade não foram encorajadoras.
A indecisão de Lula e seus conselheiros sobre a reação mais adequada à ordem do juiz Sergio Moro para prendê-lo se refletiu na desorientação dos líderes de entidades sindicais e movimentos populares que se revezavam em discursos no carro de som na frente do sindicato.
A maioria enalteceu Lula, criticou a Justiça e falou em resistência e rebelião, mas ninguém foi capaz de explicar à multidão o que deveria ser feito se a polícia aparecesse para buscar o ex-presidente.
Com apenas dois seguranças para controlar o fluxo de pessoas na porta do prédio, o próprio sindicato parecia despreparado para lidar com o problema. Até veteranos se mostravam atordoados.
No meio da tarde, quando ninguém sabia o que Lula pretendia fazer e muitos ainda sonhavam com uma liminar judicial que suspendesse a ordem de prisão, o ex-presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) Jair Meneguelli depositava todas as suas esperanças na sabedoria de Lula: “Ele é mais inteligente do que todos nós e vai saber o que fazer”.
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