Folha de S. Paulo
Arroubos de nacionalismo, grosseria e preconceito fazem barulho
Uma das tantas questões que perseguem o não eleitor de Jair Bolsonaro nos últimos meses é o que pensam neste momento os que o elegeram. De um lado, movido pela raiva de estádio que experimentamos atualmente, está pronto para perguntar se os bolsonaristas já se arrependeram. Por outro, questiona a si mesmo se há vida inteligente no pensamento do presidente ou se ele é apenas outro governante insensato a atazanar sua existência.
A biruta de Bolsonaro atende, claro, aos movimentos que o levaram ao Planalto. Dizer que o país vai falir sem a reforma da Previdência ou que terá mais emprego sem a multa de 40% do FGTS faz parte do adestramento liberal a que se submeteu desde que Paulo Guedes, abandonado por Luciano Huck, caiu em seu colo na corrida eleitoral.
Obedece à mesma lógica a defesa intransigente de uma agenda tão paroquial como variada, reflexo de quem começou pescando voto em qualquer lugar. De armas a licença para matar de policiais, de rosa e azul a transgêneros, de radares a cadeirinha, de pesca oceânica a agrotóxicos.
Bolsonaro fala o que a turma quer ouvir, como qualquer político, mas diariamente vai além. Na ânsia de mostrar que seu governo tem sentido, antecipa medidas a ponto de quase inviabilizá-las, vide o caso do saque do FGTS. Ou promete medidas tão específicas que geram desconfiança, como o filho chapeiro e, portanto, embaixador.
Sinais inequívocos de despreparo para o cargo? Tática diversionista para tirar o foco dos problemas reais? Elaborado comportamento para se manter em polêmica, realimentar a ira da matilha digital e manter aceso seu projeto de poder?
Todas as hipóteses parecem válidas e não impressiona que façam barulho arroubos de nacionalismo, grosseria e preconceito. A resposta a jornalistas estrangeiros sobre a Amazônia e a fala sobre “governadores paraíba” são só os últimos exemplos.
Bolsonaro fala o que pensa. Esse é o problema.
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