- Folha de S. Paulo
Liderança política e do programa do governo no Congresso fica com DEM e MDB
A primeira consequência do arranca-rabo no PSL é uma nova rendição de bolsonaristas ao que chamavam e gente da velha política. O DEM e dois grandes derrotados na eleição de 2018, o MDB e o PSDB, recolhem armas e despojos do governo e de seu partido saco-de-gatos, o PSL.
A segunda consequência do pega para capar é a exposição ainda mais pública de podres, o que pode degringolar em apresentação de recibos de crimes eleitorais e partidários, pois o objeto menos demente da disputa do PSL é dinheiro. A turumbamba vulgaríssima no partido do presidente parece tanto mais louca quando se observa que o governo talvez estivesse à beira de se aproveitar de um alívio, mesmo que temporário, na depressão econômica.
A sobrevivência econômica do governo já dependia da política de parlamentarismo branco de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, do DEM, e lideranças do centrão. Dependia também da experiência “velha política” de Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, do MDB, mantido por Bolsonaro mesmo depois de avariado por batidas da Polícia Federal.
Agora, o novo líder do governo no Congresso é também do MDB, o senador Eduardo Gomes, de Tocantins. Foi do Solidariedade de Paulinho da Força, tem boas relações com Renan Calheiros, com o centrão e é tido como habilidoso por gente esperta no Congresso.
O líder do governo na Câmara é Major Vitor Hugo, PSL, bolsonarista de escol e ignorado por seu partido e deputados de relevância. O líder da bancada do PSL, Delegado Waldir, foi fritado pelo próprio Bolsonaro, como se soube pelo vazamento dos grampos das reuniões elegantes do PSL. O Delegado, por sua vez, chamou Bolsonaro de “vagabundo”, à maneira galante de seu partido.
Gomes, do MDB, substitui Joice Hasselmann, campeã de votos do PSL, estrela midiática do bolsonarismo, que pode se bandear para o PSDB, talvez possível candidata a prefeita de São Paulo, o que espremeria o espaço de um candidato de Bolsonaro na maior cidade do país. O PSDB de João Doria, governador paulista, quer levar mais dissidentes da rinha de galo bolsonarista. O DEM quer levar outros, quem sabe o resto do PSL inteiro, gordo de recursos partidários, por meio de uma fusão.
No retrato do tumulto, o governo enquanto tal, como conjunto político-administrativo com alguma direção, desaparece da foto ou nela sai muito mal. Há nichos de governo, como a Economia e a Infraestrutura, que discutem projetos com o premiê informal Maia, em particular. Conjunto, não há.
Além de cuidar dos filhos e dos negócios da família, Bolsonaro se limita à tentativa de fazer um catadão de gente de bancadas temáticas, em especial da Bala e da Bíblia, a fim de dar futuro a seu programa reacionário em direitos civis, participação social, educação, cultura e segurança. Um motivo do sururu do PSL, causa aparentemente menor, é o desejo dos Bolsonaro de criar um partido disciplinado de extrema-direita, quem sabe um movimento social amplo de militância contra o Iluminismo.
O sururu do PSL pode ser apenas espuma, um horror sensacional por alguns dias que não resulte em nada mais do que já era previsível: a desorientação política que vem desde a formação do governo.
O problema de fundo é o desprezo pela razão, no mero sentido de realismo político ou mesmo de pragmatismo vulgar, desprezo disparatado que pode tumultuar o programa que boa parte da elite econômica acerta diretamente com o Congresso.
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