Folha de S. Paulo
Os eleitores da chapa votarão sinceramente
e não estrategicamente em polarização tripolar
O voto útil é um subtipo de voto
estratégico.
Nele o eleitor(a) não quer
"desperdiçar o voto": se sua primeira preferência não tem chance de
vitória, acaba optando pela que rejeita menos entre aquelas com mais chances.
Há outros subtipos:
1. Voto em partidos pequenos para que logrem atingir cláusulas de barreira,
viabilizando coalizões de governo lideradas por partidos grandes que sejam a
primeira preferência do eleitor (ex., Alemanha: eleitores do CSU/CDU que votam
no FDP).
2. Voto em adversário mais fraco no
primeiro turno, que seria mais facilmente derrotado pelo candidato de primeira
preferência no segundo.
3. Voto em opções rivais buscando sinalizar
insatisfação com o partido de primeira preferência que já tenha eleição
garantida (ex., França, como mostrou Piketty,
que formalizou o argumento).
O voto estratégico acontece assim sob qualquer regra eleitoral e para diferentes tipos de eleições e sistemas de governo. Ele tem duas características básicas: nele o eleitor não vota na sua primeira preferência (quando o faz, o voto é "sincero", no jargão) e age levando em conta o resultado final. O voto estratégico caracteriza apenas o segmento que tem preferência por "partidos não viáveis" (todas as opções fora os dois contendores principais).
Nessa perspectiva, na ausência de um
candidato da terceira via, o voto estratégico caracterizaria o universo dos
eleitores que não têm Lula ou Bolsonaro como primeira opção. A chapa
Tebet/Tasso, que surgiu por default, não por concertação, muda radicalmente o
cenário do primeiro turno.
Esse segmento, estimado em 27%
do eleitorado em abril de 2021, deixaria de votar estrategicamente e
passaria a votar "sinceramente". Polarizações tripolares não são
incomuns. Sartori fez estudo clássico sobre elas no pós-Guerra.
A questão fundamental então é se o
crescimento nas pesquisas das duas candidaturas e a consequente desidratação do
segmento revela consolidação do voto ou reflete o comportamento estratégico dos
eleitores. E mais importante: se haverá reversão para o voto
"sincero".
Análises comparativas mostram que o voto
estratégico será tanto maior quanto mais acirrado o pleito, porque cria
incentivos para que o eleitor possa influenciar o resultado.
O efeito da intensificação da polarização,
no entanto, dependerá da localização dos eleitores na distribuição de
preferências (se nos polos ou no centro): para eleitores centristas, aumentará
o custo psicológico de mudar o voto.
Quanto mais afastados os polos do centro
(mediana), maior o custo. Dada a natureza afetiva da polarização, a dupla
rejeição das alternativas —mais que aspectos programáticos— terá papel crucial
para a chapa.
*Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
Um comentário:
Reinaldo Azevedo é contra esse termo ''polarização'',mas não tem outra palavra melhor,e é claro que Lula não é radical como Bolsonaro.
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