terça-feira, 1 de agosto de 2023

Jorge J. Okubaro* - Sorria, mas com moderação

O Estado de S. Paulo

Como a evolução da classificação do risco Brasil, a mudança da Selic deverá ser modesta, bem modesta

Foi muito pequena, quase nada, a melhora da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch anunciada na semana passada. Mas, além de surpreendente, foi também significativa, pois a classificação anterior persistia desde 2018. Em junho, embora sem aumentar a pontuação, outra agência, a S&P Global Ratings, elevara de estável para positiva a perspectiva de classificação do País.

Falta muito para o Brasil ser considerado um lugar seguro e financeiramente recomendável, o que seria atestado com a obtenção do grau de investimento, de que o País já desfrutou há alguns anos. Projeções otimistas apontam que isso não ocorrerá antes de 2027.

Mas, como em outras áreas da economia e da política, a melhora da avaliação resulta de avanços, depois dos quatro anos desastrosos do governo anterior. São mudanças pequenas e um tanto escassas para nossas expectativas, o que recomenda comedimento. Ainda assim, motivos há para esperarmos que amanhã será melhor.

O próprio relatório da Fitch cita algumas dessas evoluções. A despeito de “tensões políticas persistentes desde o rebaixamento de 2018”, houve progresso “em importantes reformas para enfrentar os desafios econômicos e fiscais”, avaliou a agência. Problemas existem, observou a Fitch, como na área fiscal. Os resultados das contas do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central), por exemplo, com déficit primário de R$ 45,2 bilhões em junho, mostram dificuldades para o cumprimento da meta fiscal para o ano. Mesmo assim, a agência reviu sua projeção de crescimento da economia brasileira neste ano, de 0,7% para 2,3%. Nisso, ela acompanha analistas do setor privado.

O crescimento econômico é um dos muitos itens em que a evolução é menos intensa do que a necessária para melhorar a renda e a qualidade de vida dos brasileiros mais pobres.

O agronegócio vem puxando a expansão da economia há anos e deve manter seu papel também em 2023, com a projeção de uma safra recorde de 317,6 milhões de toneladas de grãos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas a indústria, que por décadas estimulou o crescimento e a modernização da economia brasileira, continua a debater-se em problemas como burocracia, tributos, falta de investimentos, atraso tecnológico e obsolescência gradual das fábricas.

Num resumo expressivo da situação do parque manufatureiro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou amplo predomínio de máquinas velhas. Das empresas que responderam a uma pesquisa da entidade, apenas 2% disseram possuir equipamentos com menos de 2,5 anos de uso. Como transformar esse parque para torná-lo capaz de alcançar outros países é o desafio que o governo e dirigentes industriais conscientes se dizem dispostos a enfrentar. Mas ainda não conseguiram encontrar um caminho para isso.

No campo do trabalho, há melhora constante desde a normalização das atividades econômicas depois da pandemia. A taxa de desemprego no trimestre móvel abril-junho ficou em 8,0%, a segunda mais baixa desde o pico de 14,9% registrado no primeiro semestre de 2021. A menor taxa de desemprego dos últimos dez anos, de 6,3%, foi registrada no fim de 2013.

Não se pode esquecer, porém, que ainda há 8,6 milhões de brasileiros que procuram mas não encontram ocupação. E o contingente de desalentados – ou seja, pessoas com mais de 14 anos que, por não encontrarem ocupação, deixaram de procurá-la – soma 3,7 milhões de brasileiros. A taxa de informalidade, de 39,2% no segundo trimestre de 2023, mostra que esse segmento continua grande e responde por boa parte da queda da taxa de desocupação. Milhões de trabalhadores carecem de garantias trabalhistas e previdenciárias. São números de um mercado de trabalho em evolução, mas ainda perverso para milhões de concidadãos.

Dados mais animadores surgem na área dos preços. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação do mês, teve deflação em julho, o que confirma a tendência de desaceleração de preços de bens e serviços. Em 12 meses até julho, a variação acumulada do IPCA15 ficou em 3,19%. No acumulado até junho, estava em 3,40%.

Há tempos a alta dos preços vem perdendo força. Em setembro do ano passado, a inflação acumulada em 12 meses estava em 7,17%, mais que o dobro da observada agora. Mas a taxa Selic não mudou desde então. Naquele mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a elevou para 13,75%. E a mantém nesse nível desde então. É muito provável que ao fim da reunião de dois dias que começa hoje o Copom decida pelo primeiro corte da Selic em dez meses.

Também neste caso, porém, convém manter certa moderação. A redução não será proporcional à queda da inflação. Será pequena – moderada, como são as decisões do Banco Central. Como a evolução da classificação do risco Brasil, a mudança da Selic deverá ser modesta, bem modesta.

*JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME) E PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS (JINMONKEN

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