Valor Econômico
Fato de o governo aumentar a projeção de
déficit primário deste ano não dificulta nem inviabiliza, na visão da área
econômica, a meta zero para 2024
As oito medidas de aumento das receitas
tributárias estão estimadas, pelo governo, em R$ 167,6 bilhões, equivalentes a
1,47% do PIB. É com elas que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera
entregar, em 2024, a meta de déficit primário zero.
Desse total, três já foram aprovadas pelo Congresso. São elas: a que retorna o voto do governo no Carf, que deve render, segundo cálculos oficiais, R$ 54,7 bilhões; a medida que prevê a regulação de operações tributárias e renegociação especial de dívidas tributárias - estimadas em mais de R$ 2,3 trilhões entre as que estão inscritas na dívida ativa e as que estão em fase administrativa - que deve gerar R$ 43,2 bilhões de receitas; e ações de combate à evasão fiscal no varejo on-line, que devem acrescentar R$ 2,9 bilhões na arrecadação de impostos.
Com a aprovação, na quarta feira, pela
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, da taxação dos fundos offshore
e dos fundos exclusivos, que devem ser levadas ao plenário da casa na
terça-feira, estariam garantidas receitas equivalentes a R$ 20,3 bilhões.
Isso se somaria, ainda, a R$ 700 milhões da
tributação dos jogos eletrônicos, que também já passou na Câmara e, agora, será
votada no Senado, o que perfaz R$ 21 bilhões.
Está faltando, porém, a medida de maior peso
arrecadatório que está nas mãos do Congresso, que é a tributação, com impostos
federais, das subvenções do ICMS concedidas pelos Estados. Esta deveria
produzir uma receita de R$ 35,3 bilhões, que somada ao fim da dedutibilidade
dos juros sobre capital próprio (JCP), com arrecadação estimada em R$ 10,4
bilhões, resultaria em uma receita de mais R$ 45,7 bilhões.
Acontece, no entanto, que a polêmica medida
provisória enviada pelo governo para taxar as subvenções do ICMS com o Imposto
de Renda da Pessoa Jurídica e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido está
parada no Congresso e não tem nem sequer relator. E a dos juros sobre capital
próprio, o governo retirou o projeto de lei que havia enviado e, até hoje, não
mandou um novo PL.
O governo quer a aprovação de ambas as
propostas ainda neste ano - tanto a que regulamenta as subvenções estaduais na
base de cálculo de tributos federais quanto a que acaba com a dedutibilidade
dos juros sobre capital próprio. E, para isso, cogita colocar os JCP na mesma
medida provisória do ICMS.
Dificilmente haveria tempo hábil para votar
essas duas medidas neste ano. Afinal, das cinco semanas que faltam para
encerrar o ano, uma será consumida pela viagem a Dubai - onde acontece a Cúpula
do Clima, a COP28 - do presidente Lula e dos presidentes da Câmara, Arthur
Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco.
“Quantas MPs você viu ficarem sem relator até
faltarem 20 dias para sua caducidade, e, de repente, serem aprovadas nas duas
casas?”, indagou uma fonte, que aposta nessa solução para que o ministro da
Fazenda consiga cumprir, no próximo ano, a meta de zerar déficit primário (que
exclui as despesas com o pagamento dos juros da dívida).
Após a reunião de líderes do Senado nesta
quinta-feira, 23, ficou definido que, mesmo com o Congresso esvaziado pela
Cúpula do Clima, a casa vai votar na semana que vem os projetos de lei (PL) dos
fundos offshore, das apostas esportivas e dos defensivos agrícolas.
Estabeleceu, também, que os parlamentares vão trabalhar até o dia 23 de
dezembro.
Todas essas medidas resultam no 1,47% do PIB
de aumento das receitas de impostos, que vão aumentar a já elevada carga
tributária do país.
O fato de o governo ter aumentado a projeção
do déficit primário deste ano para 1,7% do PIB, ou R$ 177,4 bilhões, cifra que
pela metodologia do Banco Central, é bem maior (R$ 203,4 bilhões), não
dificulta nem inviabiliza, na visão de fontes da área econômica, a meta de
déficit zero para 2024.
Isso, porque “foi fundamentalmente ampliado
por eventos não recorrentes”, argumentam.
Do lado da receita, foi a retirada dos
depósitos judiciais, “que seriam transferidos neste ano, mas ficaram para 2024
(logo, até melhoram o resultado do proximo ano)”. E do lado das despesas, teve
o acerto entre as União e os Estados, a partir do acordo firmado no Supremo
Tribunal Federal, que resultou do projeto de lei recém-aprovado. Mesmo assim, o
déficit é de 1,3% do PIB.
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