Folha de S. Paulo
Festival de besteira sobre língua e racismo
provoca riso e não contribui para a diminuição de desigualdades
Em seu Febeapá
(Festival de Besteira que Assola o País), lançado em 1966, o
jornalista Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, criou um
sofisticado mecanismo de humor que se baseava na reprodução de notícias com
falas e atos de autoridades que, de tão absurdos, sequer precisavam de
comentário para fazerem rir.
De lá para cá, o festival tornou-se uma tradição nacional celebrada tanto na
direita como na esquerda. Jair
Bolsonaro (PL) disse que o peixe, por ser inteligente, foge da
mancha de petróleo; já Dilma
Rousseff (PT) elogiou as "mulheres sapiens" enquanto saudava a
mandioca.
Ora, ministra, "buraco negro" e
"esclarecer" não têm nada a ver com raça, mas sim com luminosidade.
Um é objeto astronômico que suga tudo a sua volta, inclusive a luz; o outro é
termo que significa iluminar para ver ou entender melhor.
É preciso deixar claro: não existe palavra racista a priori. Os significados
das palavras se constituem a partir de interações em atos de fala, com
contextos e interlocutores específicos. O termo "macaco", que designa
um tipo de primata, pode ser racista quando proferido num estádio de futebol
para um jogador negro. Já em relação a "esclarecer" e "buraco
negro", sequer há evidência empírica de uso racista.
A ministra fala da importância de um suposto "letramento racial" num
país no qual mais da
metade das crianças no 2º ano letivo não estão alfabetizadas,
segundo o MEC.
Em vez de respaldar um festival de besteiras sobre linguística, o ministério
deveria propor e cobrar ações pragmáticas, baseadas em evidências, que de fato
contribuam para a diminuição da desigualdade social, que afeta sobretudo a
população negra.
7 comentários:
A Folha insiste em desperdiçar espaço e tinta com esta coitada.
Eu sou de esquerda e adorei o artigo.
Adoro quando criticam as bobagens da minha esquerda.
Bravo!
Bravo!
Muito Bom! Muito Bom!
Clac! Clac! Clac! Clac!
■Eu, de minha parte, adoro ler quem pensa diferente de mim, quando fundamentam o que escrevem.
▪Gosto de muitos textos desta Lygia Maria*.
Eu, que não sou nem de direita, nem de centro e que me recuso a rotular a minha visão como "de esquerda", embora para efeito didático eu seria isto: esquerda (e o que vem sendo convencionado no Brasil como esquerda eu não entendo que o seja), prefiro ler quem discorda de mim, quando ele fundamenta. Quando quem escreve é alguém de quem discordo e ele vem com ideologismos ou insistindo com propostas que a realidade rejeitou, eu deixo o texto dele de lado ou busco refletir o que discordo no texto e como penso a questão.
■Já quando o texto é de alguém com quem eu tenderia a concordar e o texto dele, no entanto, vem com ideologismos para servir de argumento de justificação dos erros que deveriam ser reconhecidos ou com afirmações infundadas, estes textos eu só posso lamentar e não endosso.
▪Claro que é muito bom ler textos que concordam com o que a gente pensa, mas não quando estes textos servem para afirmar nossos equívocos, nosso vies ideológico e nos levar ao autoengano.
*Observo que da mesma Lygia Maria de quem leio vários textos com os quais concordo e gosto, da mesma Lygia Maria me deparo com textos bem carregados de ideologismos, textos esses que deixo de lado.
GuilvanMelo insiste em gastar espaço com Daniel, um coitado.
MAM
Postar um comentário