O Globo
O governo vai bem, tropeçando nos delírios
Assustado com as últimas pesquisas, Lula reuniu
o ministério e felizmente não lançou planos, pediu aos ministros que não o
fizessem e fixou-se na exposição do que vem sendo feito. Lula aproximou-se da
sábia receita do professor Delfim Netto:
— Você tem que abrir a quitanda todo dia às 6
da manhã, colocar as berinjelas no balcão e conferir o caixa para ver se há
troco para as freguesas.
Gerindo a quitanda, o ministro da Educação,
Camilo Santana, pôs de pé o programa de ajuda aos jovens do ensino médio. Foram
destinados R$ 2,5 bilhões para a criação de cem novas unidades de institutos
federais de ensino. A renda dos trabalhadores melhorou, a inflação está
contida, e a economia vai em frente, devagar. Isso resultou da simples
administração da quitanda. Ela sempre precisa de um gerente. Se ele for também
um profeta, melhor; mas, só com visões, ela quebra.
As grandiloquências de Lula na política internacional ou com o delírio da iniciativa Nova Indústria Brasil, coisa de profeta.
Administrou-se bem o feijão com arroz, e
ficou a impressão de que é pouco. Essa ansiedade deriva da suposição de que o
governo precisa de grandes ideias. Lula fez o Prouni e o Bolsa Família.
Fernando Henrique fez o Plano Real, e JK entregou 50 anos em cinco. Esse é um
lado da moeda. Do outro, estão fracassos dos quais parece falta de educação
falar: a inflação de JK, a rodovia Transamazônica, os planos Cruzado, Verão e
Collor, os polos navais, o Fies para estatizar a inadimplência nas faculdades
privadas, mais as campeãs nacionais.
A opção preferencial pela grandiloquência
leva os governos a se encantar com a própria propaganda ou pelas caveiras de
burro de administrações passadas. A fixação de Lula com Bolsonaro (“covardão”)
é um exemplo desse desperdício. Perdem-se de vista iniciativas que fazem do
Brasil um grande país. Por exemplo, a decisão, tomada em 1974, de usar a mão
visível do Estado para estimular o plantio de soja no Cerrado depois da
criação, pela Embrapa, de uma semente própria para aquele terreno.
A queda da popularidade de Lula deve-se a
inúmeros fatores e faz parte da vida. Em alguns casos, ela decorre da sua
própria personalidade, metendo-se onde não deve, da Vale à Faixa de Gaza,
da Petrobras à Venezuela.
Sabendo que ele é uma metamorfose ambulante, não há mal sem cura.
Todo governante lida com questões que parecem
pequenas, pouco perceptíveis para a opinião pública: soja no Cerrado? Prouni? O
programa Pé-de-Meia? Essa seria a agenda do varejo, com suas berinjelas. Na
parte que lhe cabe, o terceiro governo de Lula vai bem. Divulga-se mal porque
ele prefere cavalgar o pangaré dos malfeitos de Bolsonaro. Pena, porque, num
país politicamente dividido, isso acaba sendo um veneno. Em 1961, se Jânio Quadros fosse
além da conta na cerimônia da posse, JK seria capaz de encestá-lo. Como ele não
foi, JK raramente mencionava seu nome.
Vale a lição de Antônio Carlos Magalhães, o
condestável da Bahia no
final do século XX, pessoa que sabia fazer amigos e inimigos. Destes, não
falava, pois, “se você fala deles, teus inimigos capturam tua alma”.
Não falava deles, fritava-os.
Um comentário:
Lula não devia criticar,nunca,Bolsonaro,pelo menos em público,faz isso no aconchego de seu lar.
Postar um comentário