Folha de S. Paulo
Três explicações rivais sobre a extrema
polarização nas eleições americanas
A polarização política nos EUA vem desafiando o
conhecimento acumulado na ciência política. No pós-guerra, a tendência nas
democracias foi de formação de partidos cada vez mais fluidos programaticamente
e com uma base social mais ampla (catch-all parties).
Isto resultou em uma convergência ideológica em direção ao centro (a rigor, a mediana da
distribuição de preferências). Neste contexto, a disputa política tende a se
concentrar nos eleitores voláteis que exibem baixa lealdade política e menor
identificação partidária (swing voters).
Essa tendência é mais forte nos países onde
se adota o voto distrital, que leva ao bipartidarismo; por efeito mecânico (os
partidos menores não adquirem representação), e estratégico (o eleitor desses
partidos acaba não votando na sua primeira preferência), optando por um
dos dois polos (voto útil).
Por isso, a representação proporcional que estimula o voto sincero, na primeira
preferência, foi associada à ascensão do nazismo e do fascismo.
Nos últimos 30 anos o cenário mudou. O eleitor volátil desapareceu. Há
evidências empíricas que nos EUA os dois partidos se afastaram da mediana
(desvio maior no Partido Republicano); e que os parlamentares são cada vez
mais extremistas que os eleitores.
Por que não há convergência? Há pelo menos três explicações rivais na ciência
política.
A primeira é que houve uma crescente sobreposição entre identidades sociais e
escolha partidária. Crescentemente os partidos tornaram-se homogêneos em
características sociodemográficas (religião, etnia etc.). A superidentidade
resultante enseja crescente polarização afetiva, tribal, sem correspondência
clara com divergência em termos de opções de política pública.
A segunda é que nos EUA a política tornou-se
mais competitiva a partir dos anos 1980. Até então, o Congresso era dominado
pelos democratas. A margem de vitória nas eleições presidenciais se reduziu. As
maiorias têm sido crescentemente instáveis, como demonstrou Francis Lee
em "Insecure majorities", criando incentivos para
"campanhas perpétuas". Denúncias e ataques vitriólicos podem garantir
a vitória em eleições apertadas.
A terceira explicação centra-se na estrutura interna dos partidos. Até a década
de 1970, o processo decisório nos partidos americanos era controlado por elites
partidárias. Com a generalização das primárias nas últimas décadas, as bases
partidárias e doadores passaram a ter influência crescente na seleção de
candidatos. Suas preferências são desviantes em relação à mediana dos eleitores.
Como resultado, o processo de seleção exibe um viés extremista em relação
ao eleitorado de cada sigla.
2 comentários:
O grande problema é que a esquerda não aceita alternância de poder, então se torna autoritária e reacionária Fazendo tudo para permanecer no governo
Não vê limites, Cria uma verdadeira guerra de narrativa , demonizando os seus oponentes
Daí a facada no Bolsonaro e o tiro no Trump
O meio termo é sempre o melhor caminho.
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