O Estado de S. Paulo
Lula será pressionado a avançar no ajuste
fiscal, mas isso é tudo o que ele não deverá fazer, daqui até as eleições
Tecnicamente ainda é cedo para falar delas.
Mas políticos e candidatos que são os senhores do timing já deram a largada: o
futuro chegou para colonizar o presente. De agora em diante, muita coisa será
analisada sob a ótica das eleições.
Se pudermos dividir o espectro entre esquerda, centro e direita, podemos começar por esta última. O fato mais relevante na direita é a ausência de Jair Bolsonaro na disputa presidencial. Além de ter sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro deve enfrentar outro osso duro, um julgamento em setembro. As chances de que possa disputar são mínimas. Seus aliados mais próximos consideram um desrespeito admitir isso publicamente. Bolsonaro ainda alimenta esperanças. Mas contar com a realidade não significa desrespeito, e sim algum nível de sensatez.
Com a ausência de Bolsonaro, espera-se uma
fragmentação na direita. Alguns vão aguardar que ele indique seu candidato.
Outros partem para uma tentativa independente, como é o caso de Ronaldo Caiado,
governador de Goiás.
No momento, Caiado enfrenta uma dificuldade
pois, apesar de ser bem aceito em seu Estado, a repercussão nacional de seu
trabalho é limitada. A carta na manga é atrair para a chapa o cantor sertanejo
Gusttavo Lima, que tem uma visibilidade maior que ele e a vantagem de parecer
um outsider, alguém “contra tudo o que está aí”.
Dentro da fragmentação da direita, em que
despontam outros governadores, como Ratinho Júnior e Romeu Zema, podem aparecer
outros outsiders, como Pablo Marçal, o candidato a prefeito de São Paulo.
Marçal foi considerado inelegível pela Justiça de São Paulo. Conseguirá
reverter a decisão em instância superior?
Quando Bolsonaro se render à realidade, resta
saber quais serão seus passos. Pode indicar alguém da família ou voltar suas
esperanças para Tarcísio de Freitas. Neste caso, a direita com o que for mais
forte, nas circunstâncias.
Os cenários são estes: o Brasil, em escala
nacional, é muito atraído por políticos carismáticos. Não importa quem vai
substituí-lo, a direita não terá um nome tão popular quanto Lula. Com alguma
prudência, é possível afirmar que o atual presidente é o favorito.
Existem algumas expectativas no centro, uma
vez que as pesquisas indicam que há uma parcela considerável de eleitores, mais
de 30%, que não quer nem Lula nem Bolsonaro. Mas entre as possibilidades
estatísticas e as soluções reais faltam alguns elos. Como encontrar no centro
alguém tão popular quanto Lula e Bolsonaro, que fale com seu eleitorado com
tanto êxito de comunicação?
No momento, os índices de aprovação do
governo Lula estão baixos. Seria um indício de rejeição. Mas o presidente tem a
caneta na mão, pode produzir fatos que alterem esse nível de aprovação.
Outro fator importante é que as pesquisas
fazem uma ligeira distinção entre o governo de Lula e o próprio Lula.
No momento, a inflação de alimentos corrói
sua popularidade. Não é um problema fácil, nem aqui nem no mundo. O Brasil é
uma superpotência alimentar, mas os fatores globais, as grandes cadeias de
produção, as mudanças climáticas e as oscilações do dólar e do petróleo, por
exemplo, têm um grande peso.
O tema merece uma série de análises daqui
para 2026. Lula tem uma intuição da sua importância, ao insistir no combate à
fome e falar de picanha. Hoje discutimos apenas o preço de alguns produtos
básicos, a ponta do iceberg.
Um fator importante neste 2026, que já
começou: Lula será pressionado a avançar no ajuste fiscal, mas isso é tudo o
que ele não deverá fazer, daqui até as eleições.
Cientistas políticos como Sheri Berman e
Maria Sinegovaya atribuem o declínio da social-democracia na Europa a políticas
de austeridade fiscal, que abriram o caminho para o populismo de direita. Lula
deve perceber esse perigo e, antes que o outro avance pela direita, ele procura
tomar as medidas populistas que possam garanti-lo no poder.
Bolsonaro tentou tudo em 2022, inclusive
remunerando taxistas e caminhoneiros.
O favoritismo de Lula está baseado em sua
experiência, popularidade e em medidas como o Pé-de-Meia, empréstimos
consignados, saques do FGTS – tudo aumenta o consumo e a sensação de bem-estar.
Os críticos afirmam que o resultado é o
crescimento da inflação, que vai atingir os mais pobres. Mas é uma corrida
contra o tempo. Pode ser que no período eleitoral a inflação ainda não consiga
neutralizar todas as medidas sociais visando a aumentar a popularidade.
Essa variável econômica é uma das incógnitas
que podem, em tese, ameaçar o favoritismo de Lula. Isso com os dados do
momento, 2026 já começou, mas ainda há, como dizem os locutores esportivos,
muito jogo pela frente.
Outra variável é a incerteza trazida pela
eleição de Trump. Elon Musk e o próprio Trump deverão tomar partido nas
eleições brasileiras. Musk já tomou na alemã, apoiando a extrema direita. A
ajuda dos dois pode significar também o apoio das big techs. Até que ponto sua
influência traz e até que ponto tira votos? Esse é ainda um tema aberto.
Trump tem sido muito arrogante e diz que os EUA não precisam dos países latino-americanos. Além disso, ele cobra caro qualquer tipo de ajuda: minérios na Ucrânia, expulsão de palestinos para construir um resort de luxo em Gaza.
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