Folha de S. Paulo
Obsoletos e misóginos, Lula e Bolsonaro se
igualam na visão sobre o lugar das mulheres
A vida do ministro Sidônio
Palmeira está cada vez mais difícil. O interminável repertório de
gafes e comentários impróprios do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) a todo
momento cria obstáculos à tarefa de dar um jeito na comunicação do governo.
E pior: dada a situação hierárquica, Sidônio
precisa fazer de conta que o problema não é o chefe. Assim, vai tomando uma
providência aqui, outra ali, orienta para um reforço na comparação com Jair
Bolsonaro (PL), vem o presidente e faz parceria no machismo com
o antecessor.
Se Lula pensou ter feito um elogio à ministra Gleisi Hoffmann (PT) ao dizer aos presidentes da Câmara e do Senado que nomeou uma "mulher bonita" para a articulação política a fim de facilitar a aproximação com o Congresso, pensou errado.
Não ficou nada a dever à declaração do
ex-presidente sobre as mulheres petistas. "Muito feias", segundo ele
e, por isso, desqualificadas para criticá-lo. Com esses modos, ambos explicitam
uma das razões pelas quais Bolsonaro sempre perdeu e Lula começa a perder apoio
no eleitorado feminino.
São homens de outro tempo? São. Isso pode até
explicar a visão retrógrada sobre nosso lugar na sociedade, mas não justifica a
desatualização de procedimentos e muito menos o desrespeito à qualificação
profissional e o discernimento das mulheres.
Fazem lembrar a sessão da Comissão de
Constituição e Justiça do Senado para examinar o
nome de Ellen Gracie, indicada pelo então presidente Fernando Henrique
Cardoso para o Supremo Tribunal Federal. Foi um espetáculo lamentável de
exaltação à beleza da nova ministra, com quase nenhuma referência aos atributos
jurídicos da sabatinada.
Pelo visto, na concepção dos líderes das
correntes de esquerda e direita no Brasil, desse ponto não saímos três décadas
depois.
No mesmo dia em que reduziu Gleisi à
insignificância da aparência, Lula chamou o deputado José Guimarães (PT)
de "cabeçudão do Ceará". Brincadeira? Talvez em
meados do século passado. Hoje o nome disso é assédio moral. Pobre Sidônio.
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