O Estado de S. Paulo
As bolsas dos Estados Unidos despencam, um
efeito que se espalha, embora não nas mesmas proporções, nas bolsas do resto do
mundo.
Assim como nuvens cor de chumbo prenunciam o
aguaceiro, o mergulho das bolsas é o primeiro sinal de que vem paradeira. Ou
seja, as bolsas antecipam. Caem porque as previsões são de que os lucros das
empresas tendem a despencar pelo jogo duro imposto pelo presidente Trump. Nos
últimos 30 dias, o índice S&P500 caiu 9,7%; o Nasdaq mergulhou em 13,2%.
A imposição de altas tarifas aduaneiras sobre os parceiros comerciais tem, supostamente, o objetivo de aumentar a competitividade do produtor dos Estados Unidos e, assim, recriar empregos e capitais exportados há décadas para a China, União Europeia, México e Canadá.
Além de produzir brutal desorganização dos
fluxos globais de produção e de distribuição, essa política ultraprotecionista
aciona uma guerra comercial porque os países prejudicados tendem a revidar com
retaliações, como já começou.
São pelo menos três os efeitos colaterais
imediatos negativos. Inflação é um deles. Grande parte dos produtos importados
pelos Estados Unidos subirá de preço, não só porque embutirá as tarifas
repassadas ao consumidor mas, também, porque sofrerá o peso das represálias. Os
medidores de inflação ainda não mostraram essa alta.
Outro efeito é a onda de incertezas. Ninguém
sabe até que ponto os ataques de Trump são truques para iniciar negociações e,
portanto, sujeitos a recuos, ou são para valer e, nesse caso, produzirão
reviravolta nas regras da economia global.
A proposta é a de que as empresas que
migraram nos últimos anos retornem para os Estados Unidos. Mas empresas não são
casas de caramujo que uma diretoria transporta nas costas de um lugar para
outro.
Imagine a situação de um produtor de airbags.
Como é que a diretoria pode transferir as linhas de produção para os Estados
Unidos sem saber até quando durarão essas tarifas, sem ideia dos custos que se
seguirão à desorganização dos fluxos de comércio e sem ideia dos juros e do
câmbio que prevalecerão. Daí, a profusão de incertezas, as desistências de
investimentos e da transferência de capitais.
É quadro geral que tende a provocar recessão.
A primeira reação do presidente Trump foi de fugir do assunto. O secretário do
Tesouro, Scott Bessent, tentou minimizar o risco. Mas as ameaças estão aí.
O Brasil pode se beneficiar dessa confusão
geral, porque pode aumentar suas exportações de commodities, especialmente de
alimentos, que sofrerão boicotes globais. Mas não há como evitar machucados,
que ninguém sabe como serão.
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