Folha de S. Paulo
Anistiar quem participou do 8/1 é um convite
para que eles tentem de novo
Lula não chega a dormir com o inimigo, mas o recebe na sala oferecendo salgadinhos e uma cervejinha. Mais de cem deputados da base do governo assinaram o requerimento de urgência para a tramitação do projeto de lei que concede anistia aos envolvidos no 8/1. O União Brasil —cujo líder na Câmara, Pedro Lucas, irá assumir o Ministério das Comunicações— aderiu com mais da metade de seus parlamentares. E ainda há a proposta de um acordão.
Não é o pipoqueiro. O movimento mira figuras
maiores. Beneficiar Bolsonaro e os generais palacianos que tentaram dar um
golpe no qual, segundo investigações da Polícia Federal, estava previsto o
assassinato do presidente eleito. Quem coordena a artimanha —recebendo ordens
do capitão— é Sóstenes Cavalcante, pastor evangélico que é cupincha do raivoso
Malafaia. Líder do PL, Sóstenes chegou a catar deputados no aeroporto de Brasília. Só
faltou pendurar uma placa no pescoço com a inscrição "Anistia Já".
Com gritos de "Bolsonaro é réu, inelegível" e "lugar de golpista
é na cadeia", recebeu o carinho da torcida.
De acordo com o Datafolha, a população
continua contra qualquer tentativa de perdoar os responsáveis pelos ataques aos
Poderes. A anistia é repudiada por 56% dos entrevistados. Quanto ao
ex-presidente, 52% acreditam que ele deveria curtir uma cadeia. É um pensamento
que poderá ter influência nas próximas eleições, mas os defensores do golpismo
estão dobrando a aposta.
Com o argumento furado de pacificar o país, a
Câmara trabalha —trabalha como nunca— contra o equilíbrio democrático. Passam o
seguinte recado: se vocês tentarem de novo, podem contar com a gente. Para
garantir a reforma do Imposto de Renda ou a PEC da Segurança, os congressistas
não têm tanta pressa nem disposição sobrando. Muito menos na hora de encontrar
saídas capazes de amenizar os ataques tarifários de Trump.
Em tempo: por que 23 senadores pediram ao
Supremo para conversar com o general Braga Netto, que está preso na Vila
Militar do Rio? Qual a pauta? Os kids pretos?
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