quarta-feira, 30 de abril de 2025

Desastre econômico e fuga de aliados - Andrés Oppenheimer

O Estado de S. Paulo

Não será fácil restaurar a credibilidade dos EUA após 100 dias de governo errático

O presidente Donald Trump, que prometeu consertar a economia e alcançar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia no primeiro dia da presidência, completa 100 dias no cargo e até mesmo alguns de seus apoiadores mais ativos admitem que seu segundo mandato tem sido um desastre.

O índice de ações S&P 500 caiu 10% nesses primeiros três meses, o pior declínio no período de qualquer presidente dos EUA desde a Grande Depressão, de acordo com o Dow Jones Market Data. As tarifas sobre países amigos e hostis, que o presidente foi forçado a reverter parcialmente, diante de uma onda de críticas, levaram o FMI a prever uma desaceleração econômica global. O FMI agora projeta que o crescimento econômico global cairá de 3,3% para 2,8% este ano.

O turismo internacional aos EUA caiu significativamente. Notícias de alemães e canadenses presos durante as deportações em massa de Trump assustaram muitos visitantes.

IMAGEM. Em vez de aumentar o respeito global pelo governo americano, as promessas de Trump de comprar a Groenlândia, tomar o Canal do Panamá e transformar o Canadá no 51.º Estado dos EUA fizeram do presidente motivo de chacota no mundo.

Enquanto isso, a China não poderia estar mais feliz com o rompimento de Washington com seus aliados tradicionais e os cortes quase totais na ajuda externa dos EUA e nos programas de apoio à democracia na África e na América Latina.

No cenário interno, os ataques de Trump às instituições democráticas têm aumentado quase diariamente. Uma nova pesquisa da Fox News, emissora que apoia Trump fervorosamente, mostra que 55% dos americanos desaprovam o desempenho geral do presidente, enquanto 44% aprovam.

REVERSÃO. Na verdade, Washington deve muito de seu poder econômico à percepção internacional de que os EUA são um país com instituições fortes, não à mercê dos caprichos do atual ocupante da Casa Branca. Os latino-americanos sempre economizaram em dólares porque consideram a moeda americana um porto seguro contra a instabilidade. Mas agora muitos estrangeiros começaram a vender dólares e títulos do Tesouro dos EUA para diversificar suas poupanças.

Eu não ficaria surpreso se Trump, diante do desastre que causou, continuasse a recuar e a reduzir suas tarifas. Mas o dano já está feito. Não será fácil restaurar a credibilidade dos EUA após esses primeiros 100 dias de governo errático.

 

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