Correio Braziliense
O ex-presidente da República, que ainda se
recupera de complexa cirurgia no abdome, já é tratado como carta fora do
baralho pelas lideranças desses partidos
Sepultado o projeto de anistia dos envolvidos
no 8 de Janeiro de 2023 pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), o
PP e o União Brasil, e o PSDB e o Podemos se movimentam para ocupar o espaço
vazio na centro-direita, deixado pela inelegibilidade do ex-presidente
Jair Bolsonaro, que convalesce ainda de uma grave cirurgia e está impedido
de disputar as próximas eleições pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
Mesmo que não venha a ser condenado no processo no qual é acusado de tentativa de golpe de Estado — além de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado —, Bolsonaro já é tratado como carta fora do baralho pelas principais lideranças desses partidos.
O ex-presidente da República está
hospitalizado, em lenta recuperação da complexa cirurgia que fez para
reconstituir a parede abdominal, porém mantém sua candidatura a presidente da
República como um chapéu na cadeira, para não perder protagonismo. Tudo indica
que pretende lançar em seu lugar um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro
(PL-RJ) ou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está licenciado do mandato
e se autoexilou nos Estados Unidos.
Outra opção seria a ex-primeira-dama Michele
Bolsonaro, que ensaia uma candidatura ao Senado por Brasília. Por ora,
Bolsonaro diz que seu candidato será o Jair, o Messias ou o Bolsonaro, pela
ordem, o que sinaliza que pretende mesmo lançar alguém da família em vez de
apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). As
eleições de 2026 estão logo ali, e as demais forças políticas já se movimentam
para ocupar o cenário político da centro-direita.
Federação
O União Brasil e o Progressistas (PP)
anunciaram ontem a criação de uma federação partidária, que será registrada com
o nome de União Progressista. Com isso, passam a ter a maior bancada na Câmara,
com 109 deputados federais, 14 senadores, o maior número de prefeitos (1,4 mil)
e o maior fundo de financiamento de campanha eleitoral do país, R$ 953,8
milhões em 2024, além de R$ 197, 6 milhões de fundo partidário. As federações
partidárias são alianças verticalizadas, com duração de quatro anos, mas não implicam
extinção ou fusão de partidos.
Além dos presidentes da Câmara, Hugo Motta
(Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), o senador Rogério
Marinho (PL-RN) e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, aliados de
Bolsonaro, compareceram ao lançamento da nova federação, no Salão Nobre da
Câmara. Seu maior beneficiário é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União),
cuja candidatura à Presidência em 2026 está fortalecida.
PP e União Brasil, de pronto, ampliaram o
poder de barganha que terão no Congresso na relação com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, de cujo governo participam. Entretanto, o recado de que
vão para oposição foi dado pelos presidentes do PP, Ciro Nogueira (PI), e do
União Brasil, Antonio Rueda, ao afirmarem que a responsabilidade fiscal e a
responsabilidade social são os dois eixos de atuação da nova federação.
"Defendemos um choque de prosperidade,
com medidas profundas no campo econômico e regulatório, que coloquem o Brasil
em linha de competitividade com as nações mais eficientes do mundo", diz o
manifesto lançado pela nova federação. Nos seis primeiros meses de atuação, a
federação terá uma presidência compartilhada entre Nogueira e Rueda, até que um
novo presidente seja eleito. O ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL)
pleiteia o cargo.
Fusão
Outra movimentação importante é a fusão do
PSDB com o Podemos, aprovada ontem pela cúpula tucana, por unanimidade. Uma
convenção nacional, marcada para 5 de junho, foi convocada para oficializar a
união, que depende de aprovação do Tribunal Superior Eleitoral. O nome
provisório da nova legenda é PSDB+Podemos. Com essa iniciativa, o PSDB pretende
estancar o seu declínio político e consolidar seu movimento em direção ao
centro, ao se unir a um partido que vem tendo crescimento, o Podemos.
Juntos, PSDB e Podemos terão 28 deputados
federais, sete senadores, 405 prefeitos e três governadores, além de um fundo
eleitoral de R$ 384,6 milhões e R$ 77 milhões em fundo partidário (números de
2024). "Até o início de junho, nós teremos uma nova configuração
partidária dentro desse chamado centro democrático", declarou o
ex-governador de Goiás Marconi Perillo, que preside o PSDB.
O governador gaúcho Eduardo Leite, que estava
de malas prontas para deixar o PSDB e se filiar ao PSD, a convite de Gilberto
Kassab, pode permanecer no partido para ser candidato a presidente da
República. Essa é a aposta de Aécio Neves, líder histórico dos tucanos e um dos
artífices da fusão. A governadora de Pernambuco, Raquel Lira, já migrou para o
PSDB, e o destino de Eduardo Riedel, governador de Mato Grosso do Sul), ainda
está indefinido.
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