O Estado de S. Paulo
Investigação do fim do mundo completa seis anos e vira ‘botão de segurança’ do STF
Na madrugada de 14 de março, quando uma “lua
de sangue” aparecia no céu com o eclipse total e bolsonaristas ampliavam a
ofensiva por anistia, o inquérito das fake news completava seis anos. Desde
2019 tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF), a investigação que ficou
conhecida como “inquérito do fim do mundo” foi prorrogada até junho, mas a
verdade é que não tem data para acabar. Na prática, virou uma espécie de “botão
de segurança” da Corte.
Sob a batuta do ministro Alexandre de Moraes, também relator da ação envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus por tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, a investigação tem um foco amplo, geral e irrestrito. Foi aberta por Dias Toffoli, então presidente do STF, para apurar notícias falsas, ofensas e ameaças aos magistrados e à própria democracia.
Muitos sustentam que a crise daquela época,
com a omissão da Procuradoria-Geral da República, não existe mais, tanto que
Bolsonaro foi denunciado e o general Braga Netto está preso. Além disso, acusam
o STF de se aliar ao Palácio do Planalto.
“Nunca é demais recordarmos que o Brasil sofreu uma tentativa de golpe”, rebate Moraes. “Mesmo assim, mentiras divulgadas pelas milícias digitais nascidas no chamado ‘gabinete do ódio’ tentam convencer as pessoas de que tudo foi um passeio no parque.”
Três outros ministros do STF ouvidos pela
coluna admitiram, sob reserva, que o inquérito das fake news serve como escudo
de proteção para o tribunal. Diante de um cenário hostil, a maioria dos
magistrados avalia que as diligências não só podem como devem durar por tempo
indeterminado. O argumento para manter o “botão de segurança” à mão é que os
ataques ao STF não terminaram, as fake news também não e a democracia precisa
ser “defendida permanentemente”.
Agora, o julgamento de Bolsonaro pela
Primeira Turma do STF também traz à tona fatos que têm conexão com as
investigações em curso há seis anos. Não sem motivo seus aliados pressionam o
presidente da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, para que o
pacote da negociação com o STF inclua o ponto final no inquérito das fake news.
Moraes não cede e dobra a aposta. De qualquer forma, o acordão envolve possíveis mudanças na lei para reduzir a punição de quem participou dos atos do 8 de Janeiro, mas não liderou o movimento. A proposta em discussão prevê, ainda, critérios “mais generosos” para progressão de pena. Ministros do STF dizem que é impossível conceder anistia aos golpistas. Se o projeto passar, no entanto, muitos delitos serão perdoados. Vem aí uma nova crise. A Corte está acuada e sob cerco político.
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